Crônica de Domingo.
É FIM DE TARDE.
É fim de tarde.
Final de domingo, da sacada da minha casa eu observo os transeuntes que vagarosamente passam pela rua. Uma senhora de saia creme na altura dos joelhos, com a bolsa pendurada no ombro esquerdo e na mão direita uma bíblia, certamente está a caminho do culto, que a princípio, deveria ser o meu compromisso também, mas, por cansaço, e, 'preguiça', me farei ausente.
É fim de tarde.
Aos poucos a noite se aproxima, na árvore de frente de casa canta a cigarra. Duas moças, bem jovens, roupas curtas e escuras, sacolas nas mãos, passam falando de política, do possível candidato que ganhará. A outra, discorda dizendo que é a candidata que ganhará. Hoje é dia de eleições, também votei, apesar de quase não ter dado tempo. O apertado horário de trabalho não ajudou em nada.
É fim de tarde.
As luzes da cidade se acendem, o sol já sumiu no horizonte, esta será uma noite muito quente, por sinal, ar parado, mormaço. Carros que passam velozes com os seus faróis reluzentes e suas buzinas irritantes. Uma (Santana) escura rebaixado e com o seu som estridente toca certa música, “rap”. Aos poucos os habitantes da noite despertam, jovens ávidos por uma boa balada, por uma diversão qualquer. Certa moça de aparência jovem e cabelos curtos parou de frente a minha casa no outro lado da calçada, fica olhando a 'Santana' sumir na curva mais a frente. A pele muito clara é um resquício da quarentena, do confinamento, meses e meses sem sair, pouco sol, nada de praia. Ela me observa também enquanto rascunho a crônica, nem imagina que fará parte dela. A moça vai embora lentamente, olha algumas vezes para trás, vai andando até sumir do meu campo de visão.
É fim de tarde.
A noite chegou, com toda a força da sua belíssima escuridão. A rua está calma, poucos carros, o movimento de transeuntes se acalma. Estou cansado, as pernas doem muito, é véspera de folga, merecida.
É Noite.
As estrelas brilham no véu escuro, o luar desfila delirante. Sou apenas um observador. Certamente que os resultados das eleições já saíram, alguns comemoram vitória, outros, derrotas. Alguns reeleitos, outros se assentaram pela primeira vez na câmara de vereadores. Mais quatro anos da mesma coisa, promessas que foram feitas serão esquecidas, aqueles que momentaneamente foram lembrados com um, tapa nas costas, serão esquecidos. Tudo voltará a ser a mesmíssima coisa, nada mudará para melhor.
Noites e dias se completam — como diz o refrão da canção — o nosso amor e ódio eterno, eu te recriei, para o meu prazer. Espero ter acertado o refrão dessa bela música, caso não o tenha, me perdoem os leitores.
É noite.
Recolho-me ao interior dos meus aposentos, noite quente de domingo. Faz silêncio agora, momentâneo que logo passará, tudo, aliás, o mundo com os seus fantoches, ideias, filosofias, crenças… Tudo ficará no esquecimento… Amanhã o mundo não será mais o mesmo.