TESTAMENTO EM VIDA

Um dia vou morrer.

Não sei se será logo ou se ainda terei longos anos pela frente.

A carne que molda meus ossos será devolvida à terra de onde veio.

Os vermes de Augusto dos Anjos me devorarão com voracidade:

"Já o verme – este operário das ruínas - Que o sangue podre das carnificinas Come, e à vida em geral declara guerra, Anda a espreitar meus olhos para roê-los,

E há de deixar-me apenas os cabelos,

Na frialdade inorgânica da terra!

Mas quando isso acontecer, não quero disputas e contendas.

Quero o consenso e o bom senso.

Por isso aqui vão as minhas vontades para o momento póstumo:

- Bens materiais: Deverão ser divididos a critério da lei, nos valores, quantidades e proporções que são estabelecidos, entre os herdeiros. Nada mais.

- Bens imateriais:

Aos meus 8 filhos:

À Lisa: O meu sorriso e a minha alegria, para engrandecerem ainda mais o seu transparente prazer de viver.

À Rosa: O meu espírito artístico que, sem dúvida alguma, foram transferidos a ela geneticamente.

Ao Filho: O meu altruísmo, cuja qualidade também é sua marca registrada.

À Germânia: Os meus ombros de gigante, para se apoiar e poder enxergar atrás do monte.

Ao Vini: Meu coração bondoso, para em seu peito, em dupla, fazerem perfeita sinfonia.

À Nanda: A minha inesgotável fé, para condimentar ainda mais a sua sólida e inabalável crença.

À Bela: Meu incansável espírito indagador, para afinar ainda mais sua inata astúcia.

Ao primogênito: A minha certeza e meus dogmas, para que possa temperar as suas eternas dúvidas.

Aos meus 5 irmãos:

À Marica: A minha maturidade de meio século, para aceitar as coisas como elas são e pacificar o seu coração.

À Grace: A minha sinceridade e moderação, que combinadas são o equilíbrio salutar para falar e viver.

Ao meu único irmão: O meu esteio físico e moral, para que o auxilie na sua difícil e pesada labuta diária no suporte de toda a família.

À Vilma: A minha tolerância, para alicerçar ainda mais a sua alma e orientar sua premente preocupação com a dor dos outros.

À Rai: A minha insuportável paciência, para dosar seu insistente ritmo frenético.

Aos meus pais:

Pai e mãe: A minha consciência tranquila, para que em nenhum momento duvidem da infância boa que tive, da educação edificante (ainda que lavrada a “machado”) e do amor que tenho por vocês.

Aos meus sobrinhos:

A todos: A minha alegria e companheirismo, para que nunca esqueçam que o seio da família unida é o melhor aconchego.

Aos meus amigos:

A todos: O meu amparo e a minha defesa (muitas vezes parcial), para que possam um dia retribuir, ainda que concordando com a injúria.

À minha adorável esposa:

Meu amor: O meu senso de dever cumprido, para que o incorpore ao seu, e siga seu caminho sem mágoas ou ressentimentos, sem os incômodos da consciência e a minha eterna gratidão pelo carinho e compreensão.

À vida:

Toda ela: A leveza da minha existência, porque nada tenho a perdoar, pois nunca me ofenderam.

(Momento atual, Planeta Terra, 21 de novembro de 2020).

REMI
Enviado por REMI em 21/11/2020
Reeditado em 20/07/2022
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