Perdi o Medo de Voar

Por Nemilson Vieira (*)

Voar é complicado para muitos; para outros parece não ser; depende do grau do medo de cada um.

Há pessoas que sonham com esse momento de voar e o fazem sem nenhum problema.

Há aqueles que nem preferem sonhar esse sonho; o medo ao extremo deles transformou-se em fobia e os paralisou, não os permitindo realizar essa aventura prazerosa. Voar é realmente algo marcante, um sonho antigo do homem.

A vida nos surpreende: alguns dias após produzir o meu texto “Tenho Medo de Voar”, a minha primeira vez chegou e voei, mesmo a temer.

Um voo de galinha na verdade: na ida gastei 55 (minutos) e chegamos; na volta mais 45, minutos e pronto, já estava em casa, são e salvo!

Não demorei muito na capital carioca: quatro dias apenas. Como diz os antigos: foi um pé lá e outro cá.

No dia da minha ida, no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, Confins, chegou do Recife, uma passageira em óbito, fato decorrido em pleno voo!

— A minha tensão aumentou, mas comportei-me bem; faz parte da vida estas coisas!

A passarela que, em alguns casos, vai da plataforma de embarque à porta de entrada do avião impactou-me. Pareceu-me um corredor da morte.

Não devia desistir: havia ganho as passagens aéreas de ida e volta.

Convidado, eu iria participar dum evento internacional na Casa das Beiras, Tejuca. — Oportunidade única para realizar algumas das minhas inadiáveis realizações na área cultural e de entretenimento.

Nas preliminares para a decolagem resisti aos meus temores…

Pedi perdão e misericórdia ao Pai Criador pelos meus feitos não tão condizentes com a Sua vontade…

Apertei bem o cinto e fiz-me alado; desprendi-me do chão num piscar de olhos e ganhei as alturas, o céu do meu Brasil…

De cara para cima, subia montanhas, o trem de asas da (Gol), a meter medo neste pobre mortal que vos narra isso.

Estranhei o comportamento do comandante naquele aclive, em não nivelar logo o transporte.

Um casal amigo, ofereceu-me ajuda: ao dar-me as mãos para um apoio, mas agradeci; fiz-me de duro.

Dizem que do alto não é bom olhar para baixo, mas arrisquei algumas discretas olhadelas.

As densas nuvens abaixo da aeronave pareciam as espumas flutuantes do Rio Tietê nos seus locais mais críticos de poluição.

Havia umas trepidações como carro em ondulações suaves.

O piloto anunciou o pouso no destino, mas não pousava; até achei de ser propaganda enganosa, mas não era. — Num mau tempo acontece dessas coisas.

A serração adiava o pouso, mas por fim a devida autorização aconteceu!

Do nada vislumbrei a Cidade Maravilhosa a dar as caras, o ar da graça a nós!

O Cristo Redentor — como sempre — de braços abertos, bem próximo, quase ao alcance das mãos, parecia nos desejar boas-vindas.

A aterrizagem foi tranquila; depois, eu soube por um amigo, que a pista do Aeroporto Santos Dumont, com uma cabeceira limítrofe ao mar, é uma das menores e mais perigosas do mundo. — Daí não senti tanto o impacto da informação: já estava em terra firme.

Com as bênçãos do Cristo que abriu os braços para o meu abraço, mergulhei na vida da cidade…

No Urca segui os passos do meu pai: andei no Bondinho do Pão de Açúcar e, do teleférico vi lá em baixo o mundo de beleza que ele viu: a cidade, o mar lotado de pequenos barcos... Os iates da nobreza flutuavam a bailar no mover das ondas. Na Praia Vermelha, banhistas de muitas partes do mundo; no refresco da bondade do Criador.

Passei por lá, mas só molhei os pés; tirei umas fotos e senti a brisa suave do litoral…

Consta na mídia que neste janeiro de 2017, o Rio de Janeiro recebeu 2 milhões de turistas.

Hospedado em São Cristóvão, ao lado da Linha Vermelha, não frequentei a Feira Nordestina para comer uma buchada de cabrito. Como bom nordestino que sou só fiquei com a água na boca!

Visitei a antiga residência do Imperador D. Pedro II (hoje, Museu Nacional), na Quinta da Boa Vista, e da janela que ele gostava de ficar e contemplei a beleza do lugar, com plantas e árvores, trazidas da sua terra natal; — muitas delas plantadas por ele.

Na volta, no aeroporto, conheci o cantor e compositor, Arlindo Cruz, mestre do samba carioca, tirei algumas fotos com ele para guardar de recordação; o pobre homem vivia numa cadeira de rodas por sérios problemas de saúde.

Com a minha posse no Núcleo Acadêmico de Letras e Artes de Portugal (NALAP), numa noite de gala, na Casa das Beiras, Tejuca (RJ). Senti-me irmanado aos povos de além-mar, e mais integrado do que nunca à Cultura Lusófona.

Numa manhã dum lazer com os amigos da academia de letras, vi coisas lindas, talentosas! — Nas ruas, no calçadão de Ipanema, a tomar banho de sol, de mar…

Após frequentar o reduto do poeta Viníciosnde Moraes, não posso contestá-lo de que as 'garotas' de lá são mesmo cheias de muita graça.

O Rio de Janeiro continua lindo!

Após perder o medo de voar, ainda desejo repetir o tour e rever as suas belezas: do Cristo, das montanhas, da imensidão marítima, da gentileza urbana do seu povo…

*Nemilson Vieira

Acadêmico Literário.

(17:01:17)