Pretice

Pretice

Minha tez é clara, não muito, mas o suficiente para me rotularem como "branca" , meus cabelos ajudam a classificaçao, insistindo em cair liso e fino sobre meus ombros.Minha pele é clara, meus cabelos, lisos, meus lábios finos e meu nariz afinado.Por fora, sou branca e isto esta claro na minha certidão de nascimento, minha carta de privilégios.E por dentro, onde so eu posso ver e saber? Nao me perguntaram, ao contrario, insistem em me informar sobre minha branquitude.Mas algo em mim grita que me embalaram em papel errado mas nao me ouvem.Esse algo diz que nao quer esses privilégios.O ser que habita em mim tem cor da noite, sorriso do sol, cabelos de mil e uma utilidade, boca invejavelmente carnuda.O ser que me habita carrega uma ancestralidade que nao me deixa esquecer onde a civilizacão iniciou.

Sou branca na embalagem , mas negra no conteudo.Desde muito cedo percebi que havia algo errado com a cor da minha pele.Ela nao se ajustava com o colorido de minha alma.

Desde muito menina percebi sinais.

Meu corpo me avisava sutilmente ainda, ns infancia quando meus melhores amigos eram os empregados negros do sitio onde nasci.Emilia, a cozinheira, contava_me estorias de um tempo distante enquanto alisava seu cabelo com um ferro incandescente que me assustava a alma e eu pedia a Deus para que terminasse logo para irmos para o portao do Centro de Umbanda ouvir os tambores e as palmas e meu coracao bater descompassado.Nós nao entravamos no centro, nem precisava, ele estava dentro de mim.Havia ainda Nonô, o.faz_tudo que tinha o sorriso mais branco do mundo e a voz branda tao branda que nao se levantou para se defender da acusacao de roubo.Foi a primeira vez que minha alma se dilacerou.Nonô se foi estrada afora pra nunca mais.Eu era criança ainda , mas recordo o olhar sofrido do meu protetor, matador de calangos e cobras dagua, cuidador das minhas "to fraco" tão pintadinhas.

Nonô se foi, Emília se foi, mas me ensinaram a distinguir as cores que me pertencem.

Nao renego a cor alva ds minha pele.Ela tem historia, muita historia.Que sejam então romanceadas e eternizadas essas histórias de opressores e ditadores haverá exceções com certeza.

Mas me permito ao menos por alguns instantes me dizer negra, sem as dores dos opressores apenas com a magia , com a beleza , com a realeza que essa Pretice me permita...

Como diz meu rei:(Martinho da Vila)

Se Luanda te impressionar demais

É porque sao de la seus ancestrais.

Podes crer no axe de seus ancestrais.