DESÂNIMO
DESÂNIMO
18nov20
Por vezes tenho me sentido prostrado, abatido por algo desconhecido e que me parece maior e mais forte do que minhas forças físicas, mentais e morais. E aí o que me resta é pensar do porquê de tais sentimentos. Meus amigos continuam presentes e aumentando em número, mesmo em época de isolamento social. Meu time se encontra num patamar que ao longo de mais de seis décadas não via. Me alimento daquilo que gosto, massas, carnes e tudo que dizem fazer mal para o corpo mas faz bem para a alma. Bebo vinho, vodKa, whiskie, cerveja, refrigerante só socialmente, quando tenho vontade, raramente, e não por necessidade. O dinheiro que por vezes sinto falta, me chega na devida medida, e entendo que ele é a razão da existência do pecado capital da gula e também de todos os seis pecados restantes.
Continuo lutando por justiça quando sinto ou vejo que ela está se tornando rara, que os pratos da balança já não estão nivelados e que a venda que a tornava cega, hoje está maior e cobre além da visão, seu olfato, seu paladar e sua audição, deixando-lhe apenas o tato como sentido, o que, para a justiça, sempre foi o mais fraco dos sentidos. Deus me presenteou com o fruto de meus frutos e ao vê-lo me faz sorrir a alma e ansiar por um mundo melhor. Consigo ter forças para assistir àqueles que me procuram e que me fazem ir atrás do conhecimento.
O que me frustra então?
Serão as imagens e mensagens que me massacram e me revoltam, mas que pelo hábito ou vício não consigo afastar? Será pela quantidade e velocidade de outras mensagens e imagens que me chegam por algo que ocupa minha mão, minha mente, o meu bolso ou o espaço do criado mudo ao lado de minha cama durante o sono? Será por ver naqueles que me antecederam, que temos limites e que filhos se tornam pais de seus pais no ocaso da vida? Será ainda, por ver que poder e liberdade são, semelhantemente à felicidade, apenas instantes que piscam em uma frequência que não nos é possível controlar? Ou será pela desesperança de ver naqueles que nos sucederão a busca por caminhos diferentes daqueles que lhes foram abertos, por acharmos que tudo é uma linha continua e vermos no próximo a nossa imagem e semelhança?
Aí então caros amigos, me abate um sentimento de que se todos estes “achados” forem verdades, a ignorância é um caminho mais fácil de se trilhar do que o conhecimento, e é ela que prevalecerá, pois somos preguiçosos.
É pelo conhecimento que vivo, pois, para mim, só ele é capaz de nos dar a medida certa da justiça, da perseverança, da fé, da esperança, da amizade e de todos os valores que nos movem ou comovem.
Geraldo Cerqueira