Judas perdeu as botas? - uma crônica despretensiosa

Crônica despretensiosa

Caminhar, e isto não é novo - sempre escrevo sobre as caminhadas – caminhar nos traz de acordo com o olhar, claro, a cada dia, uma reflexão.

Numa dessas caminhadas, um estalo: um par de botas, limpos, bem lustrados, polidos. Pés pequenos, por serem masculinos, 38 ou 39.

Mais à frente - seria coincidência? – um par de chinelos desses de dedos. Permitindo a metonímia, chinelo havaianas.

As botas seriam de Judas? As havaianas eram de um pobre trabalhador?

A capacidade de reinvenção na escrita é instigante e curiosa. Não. Judas não perdeu as botas. Pelo menos não há nada que comprove tal afirmação.

Os escritos perdem muito de sua autenticidade com passar dos tempos, traduções e reescritas.

Entre a Antiguidade e a Idade Média, por exemplo, muitas narrativas se destorceram e assim aconteceu com a Bíblia e suas histórias ganharam novos fragmentos e textos distorcidos. Teria Judas, como dizem alguns “fofoqueiros, escondido as moedas, fruto do acordo com os sacerdotes na traição a Jesus, teria ele escondido tais moedas nas botas?

Assim, não foi Judas quem perdeu as botas. E nada se explica veridicamente sobre.

Também as “havaianas” – nasceram comigo na década de 60, inspiradas nas sandálias dos japoneses e que as solas eram confeccionadas com palha de arroz.

Interessante, voltando aos achados e/ou perdidos da caminhada, a alusão. As havaianas, inicialmente eram voltadas para a classe de trabalhadores e havia apenas uma cor. Posteriormente e com um merchandising, a marca firmou-se e irou moda, e com diferentes designers, cores e modelos.

O que escondiam aqueles simples pares de calçados? Seriam de trabalhadores? Quem seriam seus donos? Seriam felizes? Por que a perda ou descarte do objetos de caminhar?

Fiquei pensando em posse. Posse, no conceito jurídico, como sendo “uma situação fática, de caráter potestativo, decorrente de uma relação sócio-econômica entre o sujeito e a coisa, e que gera efeitos no mundo jurídico.¹”

Um frenesi de curiosidade e tentação em “empossar” o objeto alheio me veio à mente. Não que precisasse ou que teria coragem de usar, mas quem sabe refletir sobre a possibilidade de entrega para seu dono, saber dele, escrever para ele.

Parece loucura, mas foi o que pensei. Passei direto, porém fiquei com aqueles utensílios de caminhar na mente. E fui em frente, porque atrás vinha gente. Ahh!!!

Silvinhapoeta
Enviado por Silvinhapoeta em 18/11/2020
Código do texto: T7115004
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