Deixe-se acreditar

- Eu não me importo. Realmente eu não me importo. E você também não devia ligar pra isso. - Laís disse recostada na cadeira.

- É fácil falar. – Respondi.

- Qual o benefício que tanto rancor traz na tua vida?

- Nenhum. Mas não se trata de rancor.

- E é o que?

- Incapacidade de esquecer. O contrário da amnésia.

Laís deu uma gargalhada com o corpo todo, quase caindo no processo. Depois tomou um gole de cerveja.

- É rancor, meu amor. É dor. E por ainda te machucar é que você não esquece.

- É bem isso.

- E você está me dizendo que por isso nenhum outro relacionamento seu deu certo?

- Provavelmente sim. Pelo menos foi o que minha psicóloga disso.

- Pois ela não sabe de nada... E eu não ligo. Não estou nem aí pro seu passado.

- Certeza?

- Meu amor. Passado de homem é igual a banheiro público... Se você pensar muito você não senta.

Dessa vez quem riu fui eu. Tanto pelo que ela havia dito, quanto pela espontaneidade com que falou.

- Acho que você está certa. – Falei depois de um grande gole de cerveja.

- Se eu fosse ligar pra isso, não ficava com ninguém. Sério. Tá todo mundo fudido por aí. Inclusive eu.

- Você nunca me falou sobre isso.

- Por que não vale nem a pena falar sobre. Prefiro gastar meu tempo com coisas mais interessantes.

Laís se aproximou e me deu um beijo na boca. Eu estava caído pela intensidade dela. Por todas as atitudes e falas impensadas e também pelo calor.

Ela se afastou um pouco, com meu lábio inferior preso entre os dentes, depois soltou e me olhou nos olhos bem de perto.

- Não se preocupe, meu bem. Eu vou te levar aonde você quer chegar... Eu tenho a chave... – Ela falou.

- Mombojó... Não sabia que você gostava deles.

- Meu amor. Você não sabe muitas coisas sobre mim. Mas talvez isso tudo daqui pro fim da noite...

Laís se levantou da cadeira, prendendo o cabelo com as mãos.

- Vamos?

- Pra onde? – Perguntei ainda sentado.

- Pra qualquer lugar. Quero andar... Quero um samba pra me aquecer... quero algo pra beber... quero você... – Ela falou, estendendo uma mão pra mim.

Me levantei e peguei nas mãos de Laís, me perguntando se valia à pena acreditar,

novamente.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 18/11/2020
Código do texto: T7114738
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