Cidade feia
Às bem-aventuradas criaturas residentes em outras cidades do Brasil-Pindorama: tirem os pangarés da chuva, São Paulo é uma cidade feia, vocês só vão levar tristeza daqui. O centro que, em tese -- sim, em tese, escrita, revista e ampliada --, deveria ser o resguardo da memória, da consciência histórica do povo paulista e paulistano, é uma imundície digna dos círculos mais terríveis dos infernos dantescos. As fachadas dos prédios centenários são vitrines de fealdade: os adereços de estilo, os motivos vegetais, por exemplo, caem, mofados pelo tempo e desprezados pelos moradores que, quando não são pobres imigrantes -- bolivianos, sobretudo, explorados pelas fabriquetas têxteis que proliferam para as bandas do centro e adjacências -- são especuladores imobiliários que não só tiveram sua sensibilidade para a harmonia das coisas destruída, mas como também o próprio senso de beleza. É o tal do topa tudo por dinheiro. São Paulo caminha a galope para multiplicar as suas ruínas. Eu me pergunto: por que os gajos candidatos à prefeitura, quando soltam seus perdigotos nos microfones, não citam meia palavra em prol da restauração do centro, dos prédios históricos, dos marcos arquitetônicos altamente simbólicos para a manutenção da memória do povo? Nunca, minha gente, nunca o desejo de foder com tudo foi tão profundo na longa e peculiar história das prefeituras pelo mundo. Nesse sentido, as excelências do Palácio do Anhangabaú equiparam-se somente aos sheriffs de Sodoma e Gomorra. Grandes gestores!