DA VEZ EM QUE FIQUEI PUTO COM MANUEL BANDEIRA
Quando fui morar e trabalhar em Mato Grosso, na primeira metade dos anos 1980, para não morrer de tristeza e saudades, criei um jornalzinho (O Molotov) para me comunicar com parentes e amigos que deixara no Sul e Sudeste. Neste jornalzinho, eu mantinha uma coluna, chamada "Poesia: espaço permanente", onde publicava sempre um poema. Às vezes de poeta desconhecido ou pouco conhecido, às vezes de um nome consagrado. Estava com uma edição prontinha para ser mimeografada, em que o poema era de Cecília Meireles. Ao abrir a coluna, eu apresentava o poeta em traços biográficos essenciais e com um adjetivo do meu próprio garimpo. Para Cecília, escolhi diáfana. Às vésperas de rodar a edição e enviá-la para os amigos, a empresa me mandou em missão a Belo Horizonte. O jornalzinho teria que esperar por meu retorno.
Em BH, hospedei-me num hotel próximo à Savassi. No sábado, sem expediente na empresa, saí a bater pernas e a visitar livrarias no centro da cidade. Entre minhas aquisições, um livro de Cecília Meireles. Na contracapa do mesmo, um texto de Manuel Bandeira, a tecer elogios à obra e à pessoa da poetisa em questão. E, entre outros adjetivos, ele a classificava de diáfana. Pequeopê, Manuel Bandeira! Agora teria que datilografar outra matriz pro meu jornal. Ou alguém acreditaria que eu tive uma ideia gêmea com a do grande poeta?