Pequenas histórias 218
Na calçada
Na calçada, sentado com as costas apoiado no muro da casa, estendia o pequeno boné sujo, na esperança de que alguém ali jogasse uns trocados. No entanto, todos que por ele passava pouco lhe davam atenção. Ele que vinha registrando em fotos os mais desvalidos da sorte, sentiu-se acabrunhado, sem jeito em empunhar seu celular e registrar aquela cena que mais tarde seria postado no seu blog com o título: São Paulo que ninguém vê.
Perguntava-se como pode uma pessoa chegar a esse ponto de sua vida? Tudo bem, deficiente, maneta, a outra perna estropiado, sem dentes, mal conseguia articular uma palavra audível, mas como podia chegar a esse ponto, era o que ele por muito tempo vinha se perguntando. Será que não há ninguém, da família, algum parente que pudesse auxiliar o pobre coitado? E como ele conseguiu chegar ali? Quem o trouxe?
Hoje em dia é difícil acreditar nas pessoas. Extremamente difícil, pois elas trazem em seu intimo de que podem tirar vantagem de tudo. Não é, Gersom! O que elas não sabem é que nada é gratuitamente válido. Será que elas não sabem que com isso, claro poderá sensibilizar algumas pessoas, mas não estarão sensibilizando os que podem ajudá-la!
Vejo mais um comodismo da pessoa. Sim comodismo. Sabendo que mesmo que fique ali o dia todo tomando chuva ou sol, haverá sempre alguém de coração mole que lhe dará alguns trocados. Não estou dizendo que não devem jogar no boné do coitado algumas moedas. Apenas estou dizendo que com isso estará fazendo com que ele fique mais ainda acomodado nessa situação de vitima, de coitado. Há tantos inválidos, deficientes que vão à luta...
Sinceramente, ele não se comove mais com essas situações. Tudo bem é preciso que se faça alguma coisa, que algo seja feito para que acabe com a mendicância, mas não será ele que vai solucionar o problema.