Papo sobre Escrita
PENSO que devido às minhas limitações culturais, de vez em quando digo que o importante é se comunicar e que procurar lapidar o texto, burilá-lo, enxugá-lo, seria uma besteira. Que se fizesse isso o escrito ficaria sem é e sem cabeça, ilegível. Certo? Há controvérsias. Na verdade escrever corretamente até deveria ser uma das preocupações de quem escreve. Infelizmente nunca vou conseguir escrever corretamente.
Por outro lado, escrever difícil talvez não seja escrever bem. Vamos a um exemplo: Euclides da Cunha. Um gênio da escrita. Mas lê-lo é uma dificuldade, talvez só com um tradutor. Joaquim Nabuco sobre "Os Sertões", dizia: "... Aqui a floresta impede ele ver as árvores. É um imenso cipoal, a pena do escritor parece-me um cipó dos mais rijos e ds mais enroscados. Tudo isso precisa ser arranjado por outro, ou de outra forma".
Já Machado de Assis era defensor da linguagem coloquial(nem por isso deixou de escrever maravilhosamente), ele disse como os vocábulos devem chegar ao papel: ".. Ees nascem como as plantas da terra. Não são flores artificiais de academias, pétalas de papelão recortadas em gabinetes nçao quais o povo não pega. Ao contrário, as geradas naturalmente é que acabam entrando nas academias". Graciliano Ramos era exigente com a escrita. Ele achava que se devia escrever como as lavadeiras de Alagoas exerciam o seu ofício, começando com uma primeira lavagem, molhando a roupa suja no riacho, molhando novamente, botando o anil, torcendo uma, duas vezes, batendo, enxugando e etc e e coisa e tal. E complementava: ".... Para quem se mete a escrever tem que fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer".
Vou continuar escrevendo do meu jeito, mas com a consciência de que sou limitado e sem uma cultura de verdade. Mas vou continuar fazendo o que gosto, graças a Deus. Inté.