A Moto da Madrugada

30.04.2018

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Vinha mensalmente visitar seus filhos, mãe e irmã, pois morava agora fora do estado e da capital onde sempre vivera.

Sua mãe estava aos cuidados de sua irmã em cidade perto, no interior do estado. Viera nessa semana, de moto, viagem cansativa de 8 horas de estrada pesada.

Ficaria no apartamento do filho mais velho no centro da cidade, onde já se alojara em outra época. Imóvel ótimo: amplo, arejado, moderno - todo reformado. Um brinco! Localizado em rua movimentada, com escola tradicional e universidade nela e volume significativo de carros e barulho forte nos horários de pico.

Casara o filho há pouco tempo e agora morava ali com sua nova família. Preparam-lhe um quarto isolado que lhe agradou muito, porque não atrapalhava a intimidade deles e preservava a sua privacidade também.

Era o quarto da empregada - uma suíte - pois havia banheiro privativo. Perfeito!Ótimo ficou o local e muito carinhoso foi o ato do filho e da nora para com ele em dispor o local exclusivamente para o seu uso. Instalou-se no novo aposento - sua suíte! Chegara ao início da noite, jantaram e cansado da viagem, recolheu-se cedo. Dormiu bem, pois a cama, ou o sofá-cama, já o conhecia!

Ao raiar do dia, fim da madrugada, acordou com um ronco familiar de motor rasgando o silêncio matinal.

Lembrou-se então de quando morou lá enquanto o filho esteve no exterior - ele havia lhe pedido para cuidar do apartamento - escutava o barulho dessa mesma motocicleta acordando-o pela manhã, sempre no mesmo horário, como agora.

Acompanhou, deitado, o som vindo com seu crescer forte, alto e possante, pensando se o motociclista seria capaz de imaginar que alguma pessoa naquele cedo do dia pudesse estar "curtindo" o seu barulho potente.

O ronco ficou baixo e monótono por algum tempo, devia estar aguardando o abrir do sinal, e então acelerou rápido e agudo, cresceu forte e se prolongou por um período, sumindo devagar com a distância.

Bons momentos tivera ali com seu filho solteiro.Agora seriam tempos melhores ainda com a nora, muito querida e carinhosa - como uma filha para ele - e seu enteado, alegre e esperto - como seu primeiro neto.

Agradeceu ao motociclista da madrugada por fazer com que a sua lembrança o acordasse para a nova fase de suas vidas.

E, ao ronco da moto da madrugada!

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 14/11/2020
Reeditado em 14/11/2020
Código do texto: T7111334
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