Quando estive no Centro do Universo

Meu quarto.

Computador desktop no canto, sobre uma mesa de madeira que meu pai fez pra mim. Abaixo da mesa, vejo as marcas dos meus pés/chinelos/tênis sujos na parede. Essas marcas estão ali acumuladas a não sei quantos anos. Acho meio feio, mas não me importo muito. Nunca ninguem me ensinou a limpar nada, a não ser meu saco, suvaco e cabelo e mãos e pés. Enfim, não me importo.

Olho pro teto do quarto, e o ventilador velho com helices de madeira gira e gira e gira, mas não esfria. Ele puxa o calor do teto. É um calor da porra nessa primavera, mas já estou acostumado. Vivi minha infância e adolescencia neste quarto.

Alguns posteres na parede ainda sobrevivem, mas é mais nítido as marcas de fita que ficaram na parede de pôsteres arrancados. Ouve uma época em que cada centimetro quadrado do meu quarto estava povoado com posteres ou recortes de revistas. Em geral eram de jogos de vídeo-game da época do Playstation 1, e algumas coisas saudosas do tempo do Mega-Drive, Master-System e Super Nintendo. Haviam também posteres de bandas de rock como o Iron Maiden, Metallica, Nirvana, Blink 182 e Guns'n'Roses e Jimi Hendrix. Claro que ouveram posteres da minha última tendência adolescente: animes japoneses. Cavaleiros do Zodíaco, Dragon Ball, Dragon Ball Z, Fly, Samurai X, Yuyu Hakusho e uma dezena de outros menos conhecidos da galera, como Ranma 1/2, Tenshi Muyo, Akira, e alguns que eu nem conhecia e nem tinha aceso, mas que eu achava legal as imagens que vinham nas revistas de animes(Anime Mix, Anime Do, Heroi, Ultra Jovem...). Animes como Cowboy Bebop, Trigun, Macross, animes do Studio Clamp...

Enfim, não estou aqui pra falar do meu quarto, mas gostaria de situar o leitor aonde eu estou e onde eu vivo.

No meu quarto tem uma janela chique, um armário velho e uma cama de casal, e uma guitarra que gosto de tocar mas que possuo um talento questionavel...

Gostaria de contar a vocês algo que eu nunca achei que teria a sorte de ver. Tem uma garota aqui no meu quarto, com uma beleza rara. Não consigo explicar os detalhes sobre essa garota, e acho que eu nem quero. Até porque quando olho pra ela em uma segunda feira de manhã ela está de um jeito, quarta-feira na hora da janta ela já está diferente. Sábado a noite... Domingo a noite... sexta de noite... enfim. Pra mim ela parece mais perfeita do que qualquer outra coisa, neste momento da minha vida.

Ela segura um violão. Ela toca e canta músicas depressivas do Alice in Chains pra mim. Deus, porque me deste o maior dos seus tesouros?

Posso dizer a vocês o que está em minha mão esquerda, posso falar sobre como me visto, ou o que se passa na minha mente, mas jamais conseguirei explicar o mais incrível dos sentimentos, que se inicia nos meus olhos, observando-a, passa através dos meus ouvidos, toca até a parte mais sensível da minha alma. Me envia eletrochoques através da minha espinha. Isso que eu sinto não é amor, é algo maior, melhor. Me sinto Deus, maior que Deus. Me sinto como se o Universo girasse ao meu redor durante esses 10, 20 minutos, 30 talvez. Depois passa. Depois irei para o lado escuro da lua, ou para o lado cinza da vida, ou até irei dormir. Não sei. Mas estarei na esquina do universo, e nunca mais chegarei até o centro. Mas estive lá, alias, estou lá, quando puxo essa lembrança em minha memória. Gostaria de ter mais memórias assim, mas para essa garota, enquanto ela está comigo, tocando, sorrindo, bocejando, ela não se sente no centro do Universo, apenas se sente vagando por alguma rua qualquer, onde ela pode tirar algum sorriso, algum sentimento, mas não o melhor dos sentimentos. Ela está em busca do seu momento no Centro do Universo. Enquanto que eu já o tive.

Boris Becker
Enviado por Boris Becker em 13/11/2020
Código do texto: T7110995
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