A primeira Coca-Cola...
Imagina só…
O sujeito chega do interior acostumado a comer fruta no pé.
Quando eu digo comer a fruta no pé muitas vezes quer dizer literalmente em cima do pé, trepado em alguma galha mesmo.
Eu sei, a verdade é que a gente tem essa porção meio índio, coisa de menino do sertão.
Tipo um quê de bichinho do mato, porque o viver na liberdade libera e externa nosso DNA verdadeiro.
Mas também não é apenas por isto, nem sei dizer se é o índio em nós que nos deixa livres ou pelo contrário sentir-se integrado que nos sintoniza e harmoniza a natureza primeira.
Vendo por outro prisma, tem aquele lado do além mar, tanto branco quanto preto que veio no pacote e aí embolou foi tudo.
Agora ficou uma parte despojada e crente na vida em tudo e o quanto podia, só que o futuro nunca garante certeza nenhuma, porque um dia aquele pedaço pé atrás seria acordado fatalmente…
Você ainda não entendeu, mas vou te dizer de outra forma.
De onde eu vinha não tinha tranca nas portas, sabe o que uma tramela? Pois é!
Sabe porque? A gente não precisava.
Mas aqui, tudo tinha portão, porta, trava, fechadura, até cadeado…
Eu só estou te contando isso pra te situar, mas eu sei que o que vou te contar mesmo você pode até mangar tenho certeza, mas foi exatamente assim.
Eu menino, estudava num colégio de freiras, já começou errado.
Como todo aluno naquele tempo, trazíamos lanche de casa na famosa merendeira.
Então no meu caso sempre era um banana curuda(minha mãe tinha uma plantação em casa), alguma coisa, (ovo cozido, tapioca, bolo, cuscuz...) e um suco de alguma fruta.
E aí um belo dia, algo totalmente inusitado aconteceu...
Antes um detalhe, minha irmã era professora no mesmo colégio, olha que coisa mais chique.
Então a Mana resolveu na hora do recreio, me apresentar a uma coisa nova da capital…
Uma aventura para um paladar puro e imaculado, uma incursão extraordinária...
Hoje você vai tomar uma coca-cola Del.
Era assim que me chamavam, por sinal até hoje.
Eu sempre afoito por uma novidade, fiquei logo animado.
Não lembro de onde mas ela surgiu com a dita cuja, na hora do lanche.
Havia um corredor em volta de todo o pátio central do colégio, e o limite era um murinho baixo que fazia as vezes de um banquinho sob os arcos entre as colunas.
Pois bem, sentamos neles eu e a Mana de frente um ao outro.
Então começam as explicações das técnicas envolvidas para poder apreciar a bendita…
Você não pode tomar muito rápido, foi a primeira instrução.
Não menos importante veio a seguir a próxima dica, tem que deixar uma brechinha no lábio superior para poder entrar o ar na garrafa senão o líquido não sai.
A instrução principal eu acho que perdi, porque no primeiro gole, aquela danada explodiu pelo nariz e talvez até pelos ouvidos…
Eu pensei que ia me afogar, foi desesperante para mim e pra Mana.
Após uns minutos me recuperando e enxugando as lágrimas, imensamente mais cauteloso, voltei para o experimento muito cabreiro, mas voltei...
O ensinamento que ficou é que a primeira Coca-Cola ninguém esquece!
Será que eu vendo este slogan?
20/maio/2020