Autoconhecimento

Autoconhecimento não é fácil. Precisamos parar de romantizá-lo. Hoje eu sei. Fazer essa busca em si próprio dói, desgasta, cansa e, em vários momentos, da vontade de desistir. Às vezes você da voltas e mais voltas e acaba chegando no mesmo lugar. Outras vezes você sai, mas não entende como saiu. Muitas vezes você dá dois passos para frente, mas logo depois retrocede três. Você pensa estar fazendo diferente, mas na realidade, está repetindo as mesmas coisas porem com roupagens diferentes trazendo velhos fantasmas conhecidos a tona.

É difícil se dar conta que grande parte das situações que nos machucam e nos fazendo sofrer, possuem em comum um mesmo responsável: nós mesmos.

Dói admitir que por mais que tentemos esconder, lá no fundo, ainda somos invejosos, arrogantes, medrosos, rancorosos e peritos em distribuir papéis como o de “vilão”, “vítima”, “herói” para as pessoas com as quais nos relacionamos.

Dói admitir que criamos guerras, que não existem, só como justificativa para continuar usando as nossas velhas armaduras enferrujadas. É mais fácil criar um inimigo do que me despir dessa proteção em excesso e me expor aceitando minhas vulnerabilidades e minha parcela de responsabilidade naquilo que acontece.

Assumimos a postura de acusador, juiz e jure ao fazer pesados julgamentos sem ao menos considerar como eles podem afetar quem os recebe, muito menos se questionar se realmente sabemos o que estamos falando ao nos munir de achismos e opiniões rasas.

Autoconhecimento não é fácil. Autoconhecimento dói. Dói perceber que nos esforçamos tanto para manter as máscaras de “bondade”, de “mocinhos” e “mocinhas”, de “perfeição”, mas no fundo, sabendo que escondemos sentimentos, pensamentos, desejos, culpas, vergonhas, medos que nos confrontam a todo o instante dizendo que estamos bem distantes daquilo que tentamos mostrar.

Dói saber que os muros que construímos dizendo: "Isso é para proteção. É um refúgio!", nada mais são que as paredes de uma prisão particular. Prisão na qual me torno carcereiro e cárcere ao mesmo tempo, sendo cativo junto a tudo àquilo que eu tento esconder e evitar.

Autoconhecimento dói. Dói perceber que é mais fácil entrar nas repetições do que fazer diferente. É mais fácil buscar pessoas que confirmem nossas crenças errôneas e disfuncionais e que, claramente nos fazem mal, do que nos relacionarmos com aquelas pessoas que nos fazem questiona-las, confronta-las, testa-las e por fim até modifica-las.

Autoconhecimento é perceber que projeto nos outros os meus próprios espinhos, colocando neles um fardo injusto para carregar. Que prefiro me aferrar aos meus preconceitos e as minhas preocupações, do que me permitir encontros verdadeiros e genuínos. Dói se dar conta que desejamos tanto um amor puro, leve e sincero mas, ao menor sinal dele, fugimos e nos escondemos.

É, o autoconhecimento dói, mas ele também liberta! Liberta, pois você percebe que: se você é o grande responsável pelas dessabores que lhe acontece, é também você o grande responsável por sair deles e evitá-los. Autoconhecimento é parar de colocar nas mãos dos outros suas escolhas, suas expectativas, sua salvação, mas sim, colocar cada um destes onde eles devem estar: em você mesmo!

Autoconhecimento é assumir os riscos, consequências, mas de forma consciente e responsável. É estar atento aos efeitos para com você e para com as outras pessoas que estão ao seu lado. É se permitir errar, mas aprender com cada erro. É se permitir sentir para aprender a lidar. É entender que dependemos mais dos outros do que talvez gostaríamos, mas também, entender que isso não significa estar preso a eles e muito menos que precisamos prendê-los.

É perceber que esse ideal de perfeição que tanto é falado, não existe! É entender que existem palavras bonitas sendo ditas, mas existem poucos que as põem em prática. Scripts existem, mas não te levam a lugar nenhum que você possa chamar de lar.

Autoconhecimento é entender que somos livres para escolher e livres para rever nossas escolhas. É se dar conta que o passado não pode ser alterado, mas, nem por isso, ele precisa condenar! É entender que o futuro não precisa causar medo e muito menos apreensão e que ele só vai existir a partir do que fazemos hoje. É entender que o presente é uma dádiva se usado com sabedoria, aproveitando as oportunidades que cada dia nos dá. Autoconhecimento é entender que somos mais que os rótulos e as descrições que encistem em nos colocar. Mais que os olhares e julgamentos dos outros. Hoje eu sei que somos as histórias que contamos e as que insistimos em deixar de contar. Hoje sei que autoconhecimento é entender que, se uma história não vai bem, existem outras para serem escritas e contadas.

Autoconhecimento é entender que tenho meus limites e que não preciso chegar neles para ser feliz. Autoconhecimento é entender que existe uma diferença muito grande entre Persistir e Perseverar, sendo este último, o que nos leva ao lugar que iremos um dia chamar de lar, ao contrário do primeiro, que com frequência, nos leva a bater na mesma tecla sabendo que não vai dar em nada. É entender que Expectativa é diferente de ter Esperança e que está última, não te leva à frustração como a primeira, mas sim a um possível milagre. É entender que Existir é diferente de Viver, e que este último às vezes machuca, mas também é nele que encontramos a cura. Autoconhecimento é mais que uma mudança de “mindset”, ler um livro de “autoajuda”, mais que um “mantra” que repito todas as manhãs.

Autoconhecimento é entender que em sua gênese o Perdão não é para quem você perdoa, mas sim para você, e que ele não é o final do processo de cura, mas sim, o início. É entender que se algo não vai bem existem outros contextos, outras pessoas, outros encontros possíveis.

Autoconhecimento dói, mas ele também liberta, ele transforma. É preciso ter coragem, perseverança, esperança. É preciso ter responsabilidade e paixão. É preciso escolher viver cada dia, um de cada vez, entendendo que através dele, a felicidade deixa de ser apenas o destino, mas sim o trajeto.