Contra essa geração...

Contra essa geração sensível e parva, resolvi amar o que ela odeia.

Se odeia Monteiro Lobato, passo, num repente, a idolatrá-lo.

Se odeia uma gíria, passo, no mesmo instante, a usá-la.

Se odeia a marca de algum produto, passo, da mesma forma, a compra-la e vende-la.

Se faz campanha em prol dos bois e das vacas, passo a consumir mais carne vermelha e beber leite de vaca.

Se se ofende com algumas passagens do Antigo Testamento, passo a declama-las em praça pública.

Se se ofende com o Halloween, passo a satirizar, ironizar, curupira e saci-pererê.

Se se ofende com palavras específicas, passo a escreve-las a esmo, até mesmo no vidro embaçado pelo vapor da água quente.

Se a opinião dela for falar baixo, eu grito!

E se a sua opinião for festejar, promovo a tristeza, decreto a guerra se ela declarar paz.

Estarei atento a todo momento aos seus sentimentos, pois uso e abuso dos antônimos naturais que a linguagem nos concedeu.

Bate palma? Eu vaio!

Chora? Eu rio!

Corre? Eu paro.

Reza? Eu praguejo!

Dorme? Eu vigio!

Renego a moral e a boa-vontade.

Assumo de hoje para sempre a antítese eterna à parvoíce dessa geração até a morte de seu último membro.

Amém.

Rodiney da Silva
Enviado por Rodiney da Silva em 10/11/2020
Código do texto: T7108540
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