O BARULHO PARA MASCARAR A REALIDADE
Já se falou muito que o Brasil é o país do carnaval e do futebol. Do carnaval ainda pode ser, mas quanto ao futebol, acredito que seja necessária uma reanálise. Caracterizar o brasileiro com esses dois adjetivos é uma tremenda injustiça. Precisamos reconhecer que o brasileiro é, sobretudo, apaixonado por política, mais exatamente, por política partidária. Por mais incrível que pareça, não são as propostas dos partidos e/ou candidatos que convencem os eleitores, mas o fanatismo. Esse fenômeno provoca cegueira e surdez, levando as pessoas a divinizarem políticos, partidos e ideologias. Não se sabe ao certo o que provoca esse mal nas pessoas. Mas sabemos que não se pode atribui esse mal ao analfabetismo da população, visto que indivíduos letrados academicamente são os principais adeptos dessa corrente que pretende levar a política a um patamar desprezível aos olhos daqueles que conseguem enxergar nesse cenário de total escuridão.
De Norte à Sul do país, a cada dois anos, as pessoas fazem com que suas relações se azedem, inclusive no seio familiar. Mas é em relação às eleições municipais que muitas pessoas mostram o lado selvagem do ser humano. De repente, o indivíduo deixa tudo para trás e passar a defender, acima de tudo, uma ideia, partido ou político que, às vezes, nem ele mesmo conhecia dias antes. Qualquer situação é relacionada à política é sobreposta a tudo que outrora era considerado princípio de vida, como a família e amigos. Filhos brigam com seus pais e vice versa, irmãos não se entendem, esposos e esposas não chegam a um consenso e também acabam brigando ou mesmo chegando ao cúmulo de uma separação. Sem contar, claro, com os problemas envolvendo vizinhos. De fato, observamos uma total cegueira e surdez que acometem os indivíduos nas semanas que antecedem as eleições. Teria uma solução para essa questão? Como fazer as pessoas pensarem política racionalmente?
Mas o espetáculo maior das eleições, aquele que faz o ser humano o pior das espécies, deixei para falar por último - o barulho ensurdecedor das motos. Como se já não bastassem os fogos de artifício e os carros de som, os motoqueiros trocam os escapamentos silenciosos das motos por outros mais barulhentos possíveis. Não importa quanto isso custe, não importa o quanto isso possa danificar o funcionamento da moto, o importante é fazer barulho, é silenciar a razão, é retirar da política o seu verdadeiro significado.
Carros de som propagando o ódio, fogos pipocando o tempo todo e motos sendo aceleradas até sua potência máxima, compõem o que nós conhecemos por campanhas eleitorais. É tanto barulho que não restam tempo nem paciência para ouvir o mais importante, as propostas dos candidatos. Mas afinal, quem estar interessado em proposta de candidato? Os candidatos têm propostas ou apenas trocam acusações e disseminam o ódio nos palanques, numa clara intenção de sufocar a realidade? De todo modo, assim como o carnaval e o futebol, as eleições, para os brasileiros, são apenas mais um período festivo, mas a conta saí caro para os foliões que se contentam tão somente com a avenida.