EU E AS ELEIÇÕES
Talvez por ter vivido tão próximo a discussões políticas desde que me entendo por gente e por nos últimos anos o assunto ter se tornado tão sombrio, que nesta eleição estou afastado além da conta.
Parece que tomei uma direção inconsciente para preservar a minha saúde mental.
Pode ser que para a população em geral, a eleição para presidente repercuta mais. No entanto, para aqueles que vivem mais de perto a política, a impressão que fica é de que as eleições municipais são mais emocionantes, estressantes.
As primeiras lembranças que tenho sobre eleições, são as de 1958, eu contava quatro anos de idade.
O bairro rural onde nasci e morava, os residentes dali eram todos da família do meu pai. Meu avô paterno, que na época era vereador, meu pai e tios com as respectivas famílias.
O que marcou minha lembrança é o fato que naquela data da eleição houve um atrito entre os familiares moradores dali, com rompimentos que durou algum tempo. Não foi pela questão política em si, pois todos eram do mesmo lado, mas pelas consequências da irresponsabilidade de todos eles, que acharam que poderiam deixar o lugar aos cuidados das crianças, cujos os mais velhos não passavam dos onze anos. Foram todos para a cidade votar.
Os primos se reuniram e aprontaram traquinagens que por pouco não virou tragédia.
Entre muitas, pegaram alguns cavalos de um dos tios, colocaram os arreamentos e foram galopar pelas pastagens. Um dos arreios, certamente não foi apertado o suficiente, virou na montaria jogando ao chão as duas meninas, uma delas, minha irmã de seis anos, que desmaiou mas depois se recuperou.
Outra, cuja imagem é como se fosse de agora em minha mente, é que na minha casa, junto comigo e com as duas irmãs mais velhas que eu, ficou uma tia-avó idosa, deficiente mental. Os meninos tiraram as roupas dela e a mandaram buscar lenhas na beira da estrada. A imagem que tenho é daquela mulher velha, nua, de cabelos longos e branquinhos, em cima do monte de lenhas na beira da estrada. Naquele momento passou a cavalo um homem conhecido de todos, ele ficou olhando aquela situação, talvez não tenha entendido nada.
Lembro que o atrito entre os adultos foi por uns ficarem acusando os filhos dos outros pelos acontecimentos.
Depois dessa eleição a paixão política continuou na família e eu acompanhei outras situações interessantes.
Da eleição de 1990 até a de 2012, trabalhei em todas elas, na maioria encarregado de resolver as ocorrências que surgiam nos locais de votação. Nas eleições municipais essas ocorrências aconteciam invariavelmente. Nas outras, essa função chegava a ser entediante.