O MENINO IDOSO

            “Amigo, socorro, tem um dragão me perseguindo”, gritou o garoto de cinco anos. O avô marcou a página do livro, arrumou os óculos e levantou-se com certa dificuldade, mas sem querer deixar transparecer, atiçou o menino dentro de si e saiu dando socos no ar para socorrer o coleguinha. “Aqui seu dragão desalmado, não venha amedrontar meu amigo, vou expulsa-lo com um chute no traseiro”. O pequeno agradeceu sorridente pela ajuda, já determinando novas tarefas. “Precisamos reforçar a segurança do nosso reino” algumas cadeiras colocadas em semicírculo viraram as muralhas. “vamos construir algumas tendas para nos proteger” falou o menino menino, o menino idoso saiu em busca de material e voltou com algumas caixas de papelão com as quais começaram a construir abrigos e a transformar drasticamente a paisagem da sala do apartamento. Um lençol jogado por cima da mesa virou o palácio. “Rápido amigo, os inimigos estão se aproximando precisamos estar preparados quando chegarem” gritou garoto. O menino idoso corre daqui, corre dali arruma uma coisa, arruma outra. Depois, olhando por cima da muralha caiu na besteira de dizer “estão vindo em cavalos velozes”. Terminou de falar e já se arrependeu pois o garoto aflito disse “vou precisar de um cavalo, como vamos fazer?” o Avô olhou para um lado e para o outro, e não vendo nenhum cavalo, caiu de quatro “monte amiguinho, vamos acabar com eles” o garoto pulou para cima do cavalo que já pensou logo “isto não vai prestar’. Foi flecha, lança, e machadinhas para todos os lados enquanto o cavalo corcoveava embaixo do combatente. Por sorte a batalha acabou logo, “vencemos amigo” gritou o garoto apeando em seguida para alívio do velho cavalo que resfolegava arriado nas quatro patas. Quando o avô se refez, foram trocando ideias e preparando o cenário para outras batalhas contra todo tipo de inimigos e protegendo o reino contra perigos naturais. “E se uma onça vier da floresta e entrar por um desses buracos na muralha perguntou o menino?” Só me faltava essa, pensou o avô já cansado daquela correria toda, uma onça na minha sala. De onde esse menino está tirando essas ideias. Não conseguindo resolver todos os problemas, radicalizou. “Amigo, vamos nos concentrar e criar um escudo invisível a prova de dragões, elefantes, onças, inimigos de outros tribos. “Boa ideia” disse o menino, encostando sua testa na testa do avô para o exercício de concentração, em poucos segundos “pronto, já temos nosso escudo invisível” disse ele. O avô pediu uma trégua, foi à cozinha tomar uma copo d’água e ficou por lá alguns minutos descansando. Quando voltou seu criativo amigo veio com a carga toda “amigo, descobri que o escudo não protege contra naves espaciais, vamos ter ter que construir um telhado melhor para nossos abrigos”, está certo disse o avô, vamos encontrar uma solução. Andou pelo apartamento à procura mas não encontrou nada que servisse. Finalmente ouviu barulho na porta da frente. Era seu filho que viera buscar o neto. Entre triste e aliviado disse ao menino enquanto se despedia. “no domingo que vem encontraremos uma solução”. Ficou um tempão recompondo a bagunça da sala, guardando as coisas, arrumando móveis e depois foi à procura de um Dorflex e de Cataflan gel. Durante a semana assistiu a vários desenhos animados para ver se encontrava uma solução que protegesse de alienígenas. Quando o neto voltou na semana seguinte a resposta estava pronta. “Encomendei da Rússia, deve chegar em três meses” e pensou ” até lá encontro uma solução”. Aproveitando o dia lindo, levou o garoto para brincar no parque. Dá menos mão de obra.
Al Primo
Enviado por Al Primo em 09/11/2020
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