*VIAGEM DE MIM

No silêncio o coração pede reflexão. Chego à janela local preferido para meus vazios. É boca da noite. Mesmo o sol tendo mudado de lugar, dando assento à noite, é assim mesmo, o sol está sempre aceso, a noite sempre escura, apenas trocam de lugar. O crepúsculo, num piscar de olho, anuncia a escuridão que é hora da troca e como um flerte, pisca rápido e somem cada um para a missão que natureza destinou. A rotação da terra.

O calor me invade, me sufoca, porém o frio interior me arrebata. Percebo na escuridão, minha escuridão. Uma garoa chora finas lágrimas beijando a janela.

Preciso sair respirar oxigênio, fazer-me visível. Saio peles ruas, sinto- me sem identidade como se estivesse num país distante, sem nome, sem a voz da língua mãe, a pátria. Os carros passam por mim, e minha presença é invisível, sem sombra até, estou na noite, fingindo que a quietude dorme com as emoções e pensamentos.

Vagueio. Minutos intermináveis me acompanham, é tudo estranho. O meu eu confunde-se com a realidade. A mente tropeça nas lembranças, cai, ressurge numa visão doutra mulher querendo encontrar seu espaço na terra, mas as distâncias comandam desafios, o tempo não altera sua rota, a vida oferece obstáculos.

A tela está descolorida, urge pincel na mão, a tela está em branco! Cada indivíduo pinta a vida com as cores que tem, segue rotas oportunas, estaciona nas vagas disponíveis. A corrida é árdua.

A noite é rápida como o tempo, e não sentimos os aplausos, se é que os temos. A cidade está escura, a vida está escura, apenas o hoje é dia, o futuro é noite, as incertezas longas como estradas a bifurca-se. Numa desatenção do transeunte desprevenido, o grito ecoa no eco a vida esvazia a rota.
Não medi o tempo dos meus passos, nas noites escuras, as buzinas não confundiram a noite, nem aturdiram meu pensar escuro como a noite, na lucidez da penumbra restou apenas à poesia.
 
No Nada

Quando percebi, estava ali, no mar
Olhando o luar, tímido, calado
Pasmei. Fiquei pequena a meditar
A grande obra divina, o inacabado.

Entrei no abismo, dádiva da mente
No rastro, nada eu vi, tudo obscuro
Janelas batiam vazio consistente
Senti no nada a soma do futuro.

Desperdiçado, quase que sofri
A lágrima cadente, o mal persiste
Regado pelo bem, ao mal que vi.

Quisera ter a força dos extremos
Pintar amor, que ao tempo não resiste
Nutrir do nada, o tudo que não vemos.
Sonia Nogueira
Enviado por Sonia Nogueira em 08/11/2020
Reeditado em 08/11/2020
Código do texto: T7106981
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