Carro do Ovo
Hoje eu acordei no horário do jornal do meio-dia, pois dormi muito tarde, à hora que o galo canta a Aurora - 5, 4, 3, two, one.... - e se anunciam os primeiros batuques na cozinha. Os talheres retiniam do outro lado da porta, o cheiro da comida batia na janela do meu estômago, mas eu não conseguia abrir mão do confortável colchão... Acordei à hora do almoço, e apesar de todo o meu esforço, ou intenção de me levantar - não, nem jornal da Globo, nem o cheiro do feijão, nem o carro do ovo com sua promoção nem nada conseguia me tirar da minha letargia habitual; habitualmente chamada depressão. De novo dormi bem tarde da noite, acordei mal tarde do dia e tardei pra perceber a tarde desvanecer pelas frestas do telhado, anunciando o arrebol, o outro jornal, a outra refeição, o cheiro do delicioso cuscuz com charque e banana, o outro jogo de futebol, o mexido da colher no prato. O ciclo vi… delicioso... Mas só deixei a cama e o lençol, a potencial corda no pescoço, ao apelo do peito, quando ouvi a voz animada do meu amado, numa chamada de vídeo, assim do nada, perguntando se eu estava em casa "sim, tô sim", eu digo com um riso de lua na cara. E ele abre um sorriso de sol, e diz: tô indo aí; chego já.
Jogo o lençol pra longe, pulo da cama feito uma gata e corro pra me arrumar.
E fico esperando-o ansiosamente…
Até perceber que era coisa da minha mente.
Meu ser é uma nau sem mar…
Carnaval sem gente…
Meu ser é céu poente sem ninguém pra admirar.