Tudo Errado
Adoro futebol. Tive o privilégio de ver Pelé, Garrincha, Didi, Zico, Maradona, Cruyff, Bekenbauer jogando; assim como vejo hoje Messi e Cristiano Ronaldo.
Joguei minhas peladas. Sendo carioca, ia para as peladas no Aterro do Flamengo. Fui convidado para treinar no Botafogo, no Vasco e no América. Segui o conselho do meu pai “estuda meu filho”; e não me arrependi.
Assim sendo fico estarrecido com o que vejo acontecendo hoje.
Desde aquela época sempre entendi que o jogador joga, o treinador treina, o juiz apita. Todos erram. Se o jogador erra um pênalti ou faz um gol contra o juiz não vai cobrá-lo. A recíproca tem que ser verdadeira. Sempre pensei assim.
Naquela época; e até bem pouco tempo; a arbitragem era formada pelo juiz e os dois auxiliares, então denominados bandeirinhas. Os bandeirinhas serviam só para marcar lateral e impedimento. Tinham pouca ingerência na arbitragem.
Hoje, temos o Juiz; os 2 Auxiliares, que com ele interagem por aparelhos; o 4º Árbitro, que também interage com o Juiz; e o VAR, onde 3 especialistas reveem cada lance e, se for o caso, alertam o Árbitro. Em última análise há uma Comissão de Arbitragem que tem, inclusive, poder de anular decisões após o jogo.
Então, não faz o mínimo sentido os jogadores e os treinadores assediarem o Juiz do jogo quando ele marca alguma coisa.
No futebol americano, não o soccer, que é nosso futebol mal jogado, mas a NFL, um jogo suave, onde se você puxar a camiseta e um jogador é falta, mas pular de cabeça na barriga dele não é; há jogadores de quase 2 metros e 150 quilos. O Juiz marca alguma coisa, conversa eventualmente com seus auxiliares, olha o VAR, se for o caso, e decide. Esses armários de porta aberta sequer olham para o Juiz. O que ele decidir está decidido. Se houver alguma manifestação do jogador ou do treinador, há advertências, suspensões e até banimento do esporte.
Aqui, qualquer garoto sub alguma coisa enfia o dedo na cara do Juiz do jogo se discordar da marcação de um lateral.
Recentemente o VAR alertou o Árbitro para um pênalti, que ele não tinha marcado, e o treinador passou parte do primeiro tempo e todo o segundo tempo, na beira do campo, chamando o juiz de safado, aos berros, e dizendo que ele não apitaria mais na vida. Ainda outro dia um jogador, ao término do jogo, com o seu time eliminado, partiu para cima do Juiz, com a clara intenção de agredi-lo, tendo que ser contido pelo preparador físico do time e pelos companheiros.
Isso é inadmissível. Em um torneio europeu, norte-americano ou japonês essas pessoas seriam severamente punidas, podendo inclusive serem banidas o esporte. Aqui, é feito um registro na Súmula do jogo, quando é feito, e nada acontece.
Há um outro aspecto, ainda mais importante, que não é levado em conta. Esses treinadores, dirigentes, preparadores físicos são agentes de formação de pessoas que ficam sob a responsabilidade deles pouco depois da infância. Só como parâmetro, sem entrar no mérito da questão, qual a idade daqueles meninos que estavam no alojamento do Flamengo? Isso não é raridade, é muito comum. Eles viviam lá. Moravam lá.
Os Clubes têm que ser responsabilizados pela formação desses meninos. Não só como atletas; muitos, a maioria, irão para outra vida; como cidadãos. Como membros da sociedade.
Que moral tem um celerado desse, que passa o jogo inteiro xingando e ofendendo a autoridade, para exigir respeito e educação de um ser que ele está formando?
Essa é a atitude dos treinadores, dos preparadores físicos, dos dirigentes de clubes, das autoridades do futebol.
Vou mais longe. A formação das crianças, adolescentes e jovens é, em última análise, responsabilidade do Estado. Assim sendo, diante do descaso dos responsáveis diretos, as Autoridades do país, que fiscalizam a área, deveriam atuar. Deveriam exigir, inclusive por vias legais, o cumprimento dessas responsabilidades por parte dos dirigentes esportivos.
É como vejo o assunto.