Trinta e três

Sete de novembro sempre foi meu dia do ano preferido. Sempre adorei fazer aniversário. Acho fantástica a ideia de ter um dia todo seu, em que há uma boa desculpa para receber muitos abraços e ser mimada. Neste ano, porém, confesso que o sabor desta data é agridoce; na verdade, muito mais acre do que doce.

Há sempre um momento no meu aniversário em que eu paro para refletir. Lembro-me dos anos anteriores e das reviravoltas da vida. Bobagem, vejo hoje. A vida passa todos os dias, mas temos essa mania persistente de só pensar nisso em datas significativas. Hipocrisias a parte, passei a semana toda pensando em tudo o que aconteceu na minha vida nesse ano. Em meu último aniversário, eu estava grávida. A vida crescia em mim enquanto eu estava chateada com bobagens cotidianas costumeiras. Não tive muito ânimo para comemorar. Lembro-me de ter passado alguns dias assim, chateada, sem motivação. Eu poderia culpar os hormônios, mas confesso que essa tendência a me abater precede minha gravidez.

Alguns dias depois do meu aniversário, fui ao supermercado num domingo à noite. Nunca faço isso. Gosto de ir ao supermercado à tarde, quando os corredores estão vazios e não há filas nos caixas. Contudo, a geladeira estava vazia e não havia a menor possibilidade de iniciar a semana daquela forma. Eu estava na fila do caixa preferencial quando um senhor veio puxar assunto. Eu geralmente me irrito com desconhecidos que tentam puxar conversa em filas e tento abreviar o assunto. Não consegui fazer isso daquela vez. Algo naquele senhor ardeu em meu coração, percebi que ele precisava falar.

Não me lembro do seu nome. Ele me contou sobre a esposa, que havia falecido de câncer no cérebro há poucos meses, após um longo tempo de sofrimento. Falou sobre a brevidade da vida e a futilidade do dinheiro, que ele tinha, mas que não serviu para nada. Lembrou-se do amigo com o qual havia planejado viajar de moto, mas que sofrera um acidente fatal de carro há algumas semanas. Contou com tristeza que sempre ia ao supermercado no domingo à noite, porque sua casa estava assustadoramente vazia e ele não conseguia ficar lá. Depois que ele foi embora, percebi que, na verdade, era eu quem precisava ouvir. Voltei para casa com novo ânimo, ciente da brevidade da vida e decidida a desfrutar dela.

Um ano depois, encontro-me aqui. Meu ventre e meus braços estão assustadoramente vazios. A brevidade da vida bateu a minha porta. Eu sinceramente não sei como enfrentar este dia sete. Penso nas surpresas que a vida me reserva para o próximo ano e, honestamente, tenho medo.

Tenho pensado muito naquele senhor do supermercado. Ele me ensinou uma lição preciosa: a vida acontece todos os dias, enquanto nos esquecemos dela e acaba de uma vez, muitas vezes quando não imaginamos que isso possa acontecer. Isso abriu meus olhos, mas ainda é uma lição difícil de aprender.

Lilian Blasioli
Enviado por Lilian Blasioli em 07/11/2020
Reeditado em 09/11/2020
Código do texto: T7105984
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