A CAPELA, 90 ANOS DEPOIS...
Francisco de Paula Melo Aguiar
O Engenho Cumbe foi transformado em Usina Santa Rita, não tinha capela em seu terreiro [tinha a de Santos Cosme e Damião e a de Santo André, de sua propriedade, porém distantes e padroeiros de outros engenhos com iguais nomes], prova disso é a construção e a inauguração da referida casa de oração pelo neófito proprietário e latifundiário da referida agroindústria. E até porque, com o passar do tempo, o termo “engenho” a nível de Brasil passou a ser designado como sendo o conjunto da propriedade senhorial, contendo plantações [principalmente de cana-de-açúcar], casa-grande, capela e senzala, inicialmente chamado de trapiche porque se utilizava da atração animal, depois passou a ser movido a roda de água, quando passou a ser chamado de engenho real. Por outro lado, na segunda década do século XIX, teve inicio a instalação dos engenhos a vapor, chamados de banguês. E no final do mesmo século XIX e inicio do século XX, os engenhos foram substituídos pelas unidades industriais chamadas de usinas. (AZEVEDO, 2009, p.9).
Mas na Santa Rita, faltava a capela de sua padroeira.
Assim sendo, em 9 de novembro de 1925 da era de Nosso Senhor Jesus Cristo, foi inaugurada a capela de Santa Rita na usina do mesmo, construída naquele mesmo ano pelo médico Flávio Ribeiro Coutinho [que na década de 50 do séc. XX foi governador da Paraíba], segundo Monsenhor Abdon Melibeu que assim escreveu:
“A capella de Santa Rita, da Usina do mesmo nome foi construída em 1925 pelo Dr. Flávio Ribeiro Coutinho, proprietário da mesma Usina e foi inaugurada a nove de novembro do mesmo anno, sendo benzida por Monsenhor Abdon Melibeu Vigario da Parochia, acoliptado pelos Monsenhores Odilon Coutinho e Manuel de Almeida que em seguida celebraram o Santo Sacrificio da Missa. Para constar escrevi este que assigno. Santa Rita, 10 de Novembro de 1925. Vigário Monsenhor Abdon Melibeu”. [MELIBEU, LIVRO DO TOMBO/PAROCHIA DE SANTA RITA/PB, 10/11/1925].
Isso é fato e contra fato não se tem argumento, principalmente em sendo como é um fato histórico cristão da mais alta qualificação e reconhecimento à devoção a Santa Rita de Cássia, a padroeira da Usina de igual nome, benzida pelo Monsenhor Abdon Melibeu, vigário da Paróquia de Santa Rita, acompanhado dos concelebrantes, os Monsenhores Odilon Coutinho e Manuel de Almeida, que em seguida celebraram a Santa Missa, a primeira no referido templo católico, conforme consta das anotações feitas de próprio punho por Monsenhor Abdon Melibeu, no livro do Tombo da Paróquia de Santa Rita, em 10 de novembro de 1925.
O tempo passou, a Usina Santa Rita da modernidade industrial ao fogo morto, também, onde só resta a casa grande, a capela, o bueiro e o casario onde moravam seus empregados, hoje habitados por outras pessoas, inclusive parte dos atuais moradores nada tem a haver com o passado glorioso do tempo em que o massapê da várzea do rio Paraíba era branco e doce... O maquinário, a linha férrea, os vagões e as locomotivas movidas a lenha, o prédio central da indústria e o da balança, e bem assim a feira semanal nas primeiras horas da manhã de cada domingo, também o tempo levou...
Ninguém sabe por onde andam as flores do jardim, todas desapareceram como chuva de verão...
De modo que neste próximo dia 9 de novembro de 2020, a capela da extinta Usina Santa Rita, completará justamente 90 (noventa) anos de sua construção e inauguração.
Ah! Não faz muito tempo que as flores, as ideologias e os poderes: político, social, econômico e financeiro de Santa Rita e da Paraíba, ali faziam moradas, estavam ali no jardim plantado no solo de massapê, regado com o vinhoto misturado com a água do Paraíba e o cheiro sazonal do mel cozinhando nas caldeiras que exalava o campo e a cidade de igual nome da usina para ser transformado em açúcar, o nosso outro branco, atualmente de fogo morto... [AGUIAR, 2016, p.61].
O que aconteceu ou o que houve para que tal progresso desaparecesse, como de fato e de direito desapareceu entre nós? A mudança de dono e de visão de mundo dos seus sucessores imediatos...
Agora só resta o cantar e o voar rasante da coruja que faz escala da torre da capela quase centenária da extinta Usina Santa Rita, segundo Aguiar [2016, p.618] para o Santuário-Matriz de Santa Rita de Cássia e de lá para o prédio mais alto do Bairro Popular que abriga pela vontade de Deus, o COFRAG – Colégio Dr. Francisco Aguiar, desde 5 de Janeiro de 1964 e a Faculdade do IESPA.
A coruja assim como a classe política da situação e da oposição, gosta do poder e das alturas...
E ao passado que não volta mais fica apenas o sentimento e a saudade do que foi e não é mais...
REFERÊNCIAS
AGUIAR, Francisco de Paula Melo. Santa Rita, Sua História, Sua Gente. 2ª ed. São Paulo: Clube de Autores Publicações S/A, 2016, 638p. Disponível in.: <https://rl.art.br/arquivos/6404665.pdf >.
AZEVEDO, Esterzilda Berenstein de. Engenhos do Recôncavo Baiano.Brasília,DF: Iphan/Programa Monumenta, 2009.
MELIBEU, Abdon. Livro do Tombo. [Manuscrito]. Paróquia de Santa Rita de Cássia – Santa Rita-PB, 10/11/1925.