SOBRE MULHERES, CULPA E DOLO.
Sem sono, perdendo tempo nas redes sociais, percebi uma massiva manifestação de mulheres e meninas sobre o tal caso do estupro culposo. Chamou minha atenção o termo; perguntei-me se eu não tinha uma ideia equivocada sobre dolo e culpa. Lá fui eu ao doutor da internet, nosso companheiro, fazer algumas perguntas.
Dolo é quando você comete uma ação intencionalmente, ciente de suas consequências. Culpa é quando você comete uma mesma ação, de forma negligente, imprudente ou imperita, porém sem a intenção de causar dano. Pois é. Eu estava certa. Só fiquei me perguntando como uma pessoa pode ter relações sexuais com uma outra inconsciente e achar que não lhe causaria dano.
A cada onze minutos, uma mulher é estuprada no Brasil. Estes são dados de 2015. Pesquisas divulgadas em 2019 mostram que 180 mulheres sofrem violência sexual por dia no Brasil; destas, mais da metade são meninas menores de 13 anos. Você não leu errado. Quatro meninas, adolescentes, crianças, são estupradas por hora no Brasil.
Enquanto ser humano, eu tenho náuseas quando vejo este tipo de situação. Recentemente assisti a uma série brasileira que trata exatamente do mesmo assunto: o abuso contra a mulher e a falta de ação do poder público , ou seja, daqueles que deveriam defendê-la. Fantástica, mas forte, dolorida, nauseante. Pensei só existir esse tipo de situação na ficção. Triste engano.
Enquanto mulher, tenho medo de viver em um mundo que não nos respeita, que não dá a mínima para nossos medos. Uma sociedade com valores distorcidos que ousa achar que alguma mulher, em algum momento de devaneio, possa pedir para sofrer um abuso através de suas atitudes. Para estas pessoas, tenho apenas uma frase nominal: meninas menores de treze anos.
Enquanto professora e mãe, tenho tido a ideia repetitiva de que precisamos ensinar nossas meninas a se defenderem fisicamente. Sim, mais uma vez, você não leu errado. Fisicamente. Veja bem, sou contra a violência de forma veemente. Contudo, as mulheres precisam ter o amplo direito à defesa. Estamos criando meninas fortes e determinadas em uma sociedade que não as aceita desta forma. Muitos empresários em clubes aparecerão, infelizmente. E, neste momento, elas precisam saber como agir. É necessário falar sobre prevenção, sobre todos os cuidados que podem ser tomados ; é necessário exigir justiça, mas também precisamos falar sobre a defesa. Não, não podemos mais assistir de braços cruzados.
Eu choro com a moça com nome e rosto, abusada e humilhada. Eu choro com todas as mulheres e meninas anônimas, os números nas estatísticas. Eu choro muito por todas que estão fora delas, aquelas que nunca denunciaram. Eu choro porque sou humana, porque sou mulher.
Espero justiça. Espero que a sociedade nos defenda. Enquanto isso não acontece, espero que aprendamos a defender a nós mesmas. Por cada uma de nós e por todas aquelas que não puderam.