UMA BRIGA DE TURMAS

UMA BRIGA DE TURMAS

Uma tarde ao entrar no quintal do Zé Guardinha, vi que o mesmo havia acendido uma pequena fogueira e, no centro dela estava uma caneca de alumínio, já escurecida pela fuligem. Dentro, uma pequena porção de chumbo derretendo. Guardinha,ao lado, observava. Quando o metal ficou líquido, meu amigo retirou a caneca do fogo e derramou uma pequena porção no chão. Intrigado, me aproximei para ver o que estava acontecendo. Havia um fino cabo de aço, de freios de bicicleta, estendido com a ponta dentro de um pequeno buraco, onde Zé Guardinha derramou o chumbo derretido. Depois de resfriado, o chumbo formou uma bola de um centímetro de diâmetro, solidária com o cabo de aço. Na outra extremidade Zé Guardinha deu uma volta no cabo e amarrou com um arame fino. Enfiou a mão na volta, que parou no punho e segurou o cabo de aço, movimentou umas vezes rapidamente como um chicote. Aquilo assobiava, nem se via a bola de chumbo na ponta. Contou-me então que uma turma do outro lado da cidade marcara uma briga com a nossa, e ele fabricara aquele açoite para se defender. Recém chegado à turma, embora com medo prometesse que participaria do embate. Percebi que aquela arma poderia causar graves ferimentos no adversário.

Chegado o horário marcado fomos ao local combinado, Praça 22 de Janeiro, a Praça da Biquinha. Nós éramos um grupo de seis ou sete garotos e eis que aparece uma verdadeira tropa de meninos com cara de bravos, comandados por um grandão, prometendo nos bater muito. Zé Guardinha, com a mão no bolso, onde estava o cabo de aço com a bolinha de chumbo, iniciou uma discussão com o grandão, trocou muitos insultos e ficou eminente que uma grande briga começaria. O camarada, bem mais alto e forte que todos, tomou a iniciativa e atacou o Zé Guardinha. Quase que não foi possível ver, de tão rápido, nosso amigo tirar seu açoite do bolso e desferir uma chicotada no rapaz, que parou seu ataque na hora. Ferido na bochecha esquerda, próximo ao olho, o cara colocou a mão no rosto, onde se formara um corte que no instante ficou branco e depois brotou muito sangue. Protesto geral da outra turma, dizendo que com uma arma daquela era desleal. Zé Guardinha balançava o chicote ameaçadoramente, dizendo que eles voltassem ao seu bairro. Aos poucos os camaradas se afastaram, ameaçando voltar também armados. Passados os momentos de tensão, voltamos para casa cantando vitória e eufóricos. Graças a Deus não cumpriram a promessa e nunca mais voltaram.

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 04/11/2020
Código do texto: T7104201
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.