CRÔNICA PÓSTUMA
Sempre tive muito medo dela. Tanto, que passava por longe de onde sabia que ela estava. O que eu não sabia é que ela estava em todos os lugares, escondida como uma cobra, pronta para dar o bote. Essa informação me apavorou ainda mais, porque a ideia de encontrá-la, de tê-la em mim, apagando toda minha existência, como um adolescente apaga seu histórico de pesquisa no google para que os pais não saibam o que ele anda pesquisando, era e ainda é apavorante. Não é o medo de morrer que me apavora, o que me deixa desesperado é o medo de não mais existir.
A ideia de deixar de existir, de não fazer nenhuma falta, de ser apenas um amontoado de compartilhamentos em rede sociais, sendo lembrado por frases feitas e mensagens de pesares de pessoas que sequer me conheciam. Ou daquelas pessoas que me conheciam, mas que me queriam morto, e agora compartilham pesares. Meu medo é me ver nos grupos do whatsapp, sendo compartilhado numa rapidez tão grande para saciar a sede daqueles que gostam de ser o primeiro a noticiar a morte. E o pior, essa atenção dura até outro morrer. E se tiver uma morte pior, é esquecimento total. Esse é o meu medo.
Um medo que crescia a cada aniversário que eu fazia, pois cada ano que passava me sintia mais próximo dela. Uma idiotice, de certa forma. Que a velhice é o estágio para morte, disso todos sabemos. Mas o pior é saber que a morte não respeita esse ciclo, ela vem sorrateira, numa festa, num passeio, numa noite tranquila de sono... e nos leva com ela, sem nem ao menos se dar ao trabalho de olhar a nossa certidão de nascimento. Para ela, não interessa se temos oito anos ou oitenta... se temos dezessete anos ou setenta. Somos, aos olhos da morte, uma vela acessa, e ela sopra quando dá na telha, apagando a nossa chama da existência.
E foi por isso que deixei de ter medo da morte, eu já aceitei que mais cedo ou mais tarde ela irá aparecer. E de uma coisa eu estou certo, ela chegará de surpresa, invadindo minha vida, interrompendo os meus projetos... e aos meus amigos e conhecidos, até mesmo aos que se dizem meus inimigos, se dizem, pois não tenho nenhum inimigo, peço que me homenagei com uma crônica. Que seja crítica, que seja de ódio. Mas que vocês falem de mim num texto literário, pois só assim saberei que não deixarei de existir, já que os personagens são eternos. Eles habitam o mundo que morte não pode findar, a imaginação.
Sempre tive muito medo dela. Tanto, que passava por longe de onde sabia que ela estava. O que eu não sabia é que ela estava em todos os lugares, escondida como uma cobra, pronta para dar o bote. Essa informação me apavorou ainda mais, porque a ideia de encontrá-la, de tê-la em mim, apagando toda minha existência, como um adolescente apaga seu histórico de pesquisa no google para que os pais não saibam o que ele anda pesquisando, era e ainda é apavorante. Não é o medo de morrer que me apavora, o que me deixa desesperado é o medo de não mais existir.
A ideia de deixar de existir, de não fazer nenhuma falta, de ser apenas um amontoado de compartilhamentos em rede sociais, sendo lembrado por frases feitas e mensagens de pesares de pessoas que sequer me conheciam. Ou daquelas pessoas que me conheciam, mas que me queriam morto, e agora compartilham pesares. Meu medo é me ver nos grupos do whatsapp, sendo compartilhado numa rapidez tão grande para saciar a sede daqueles que gostam de ser o primeiro a noticiar a morte. E o pior, essa atenção dura até outro morrer. E se tiver uma morte pior, é esquecimento total. Esse é o meu medo.
Um medo que crescia a cada aniversário que eu fazia, pois cada ano que passava me sintia mais próximo dela. Uma idiotice, de certa forma. Que a velhice é o estágio para morte, disso todos sabemos. Mas o pior é saber que a morte não respeita esse ciclo, ela vem sorrateira, numa festa, num passeio, numa noite tranquila de sono... e nos leva com ela, sem nem ao menos se dar ao trabalho de olhar a nossa certidão de nascimento. Para ela, não interessa se temos oito anos ou oitenta... se temos dezessete anos ou setenta. Somos, aos olhos da morte, uma vela acessa, e ela sopra quando dá na telha, apagando a nossa chama da existência.
E foi por isso que deixei de ter medo da morte, eu já aceitei que mais cedo ou mais tarde ela irá aparecer. E de uma coisa eu estou certo, ela chegará de surpresa, invadindo minha vida, interrompendo os meus projetos... e aos meus amigos e conhecidos, até mesmo aos que se dizem meus inimigos, se dizem, pois não tenho nenhum inimigo, peço que me homenagei com uma crônica. Que seja crítica, que seja de ódio. Mas que vocês falem de mim num texto literário, pois só assim saberei que não deixarei de existir, já que os personagens são eternos. Eles habitam o mundo que morte não pode findar, a imaginação.