O vaso de porcelana chinês
Acordou tarde, não se arrumou como de costume, estava entediada, ansiosa, muito agitada. Tomou duas xícaras de café, o que não era habitual, sentada no sofá ela chorou.
A briga de ontem não foi como dantes, os gritos e ofensas perderam o freio, desceu ladeira abaixo. Terminou com uma porta batendo e pratos sendo quebrados, em meio ao caos sentou-se com uma garrafa de vinho, bebido com lágrimas.
Eram tantas idas e vindas, tantos remendos, tantas tentativas, em nome de um amor que a muito já não existia. Pegou a chave comigo guardada, abriu uma caixa e rasgou fotos e cartas. Agora não tinha mais volta, o relacionamento tinha chegado ao fim. Ele tinha outro lugar para pousar, há muito tempo pousava lá e cá.
Triste o fim de algo que começou tão bonito, com tantas juras que o amor seria eterno. As juras de amor são tão fugazes, em alguns casos não são sinceras, servem apenas para conquistar um coração. Depois da escalada bem-sucedida acaba a emoção.
Penso se da parte dela era amor, costume ou obsessão. Quem ama não aceita tudo, não se aprisiona em tola ilusão, O amor é via de mão dupla, não se engane que há outras vias que fazem feliz o coração.
Lembro-me quando resolveram morar juntos, fui o primeiro objeto de decoração, um vaso chinês, que ele comprou para ela, celebrando a casa nova e toda aquela emoção. Ainda bem que ontem só os pratos foram para o chão. Ainda sou testemunha silenciosa num canto da sala, sem voz e sem poder mostrar compaixão.