Destino Terra
Até num passado recente, a Inteligência Artificial era tema para milhares de livros escritos sobre ficção científica. Agora ajuda a transformar muito daquilo que foi ficção em realidade. Ainda ficção, alguns desses livros dizem que a Inteligência Artificial será a maior religião dos humanos no futuro. Substituirá o dinheiro como o grande e único altar planetário. Começo a apostar minhas fichas nesta hipótese.
Não fosse uma matéria jornalística do jornal A Folha de São Paulo, podia ser ficção científica. Chegou de Lisboa assinada por Giuliana Miranda. Antes impossível, agora com a ajuda da Inteligência Artificial a Europa pretende criar uma espécie de “gêmeos digitais” do planeta. Clones da Terra.
Com a sigla “Destination Earth” (Destino Terra) abreviado para “DestinE”, serão usados três supercomputadores. Um está localizado na Itália, um na Espanha e outro na Finlândia. A construção começará no próximo ano e as operações em 2023. O custo por uma década será de 5 bilhões de Euros.
Em muitos segmentos já existem os gêmeos digitais. Pelo grande volume de variáveis, construir uma “Terra gêmea” era um desafio. Não pela falta de computadores potentes. Não é apenas construir cenários. É preciso também analisá-los. Trabalhar com montanhas de dados só é possível com o auxílio da Inteligência Artificial.
A ideia do projeto europeu é analisar e interpretar em tempo real essas montanhas de dados. Antever com confiança e antecedência de dias, meses e até de anos eventos geradores de tragédias. Mudanças climáticas, secas, enchentes e tempestades. Em 2025, o plano é ter entre quatro e cinco clones virtuais. Cada um cuidando de uma área especifica incluindo a previsão do tempo. Simulações do complicado comportamento humano também integra o projeto.
A resolução das imagens do “DestinE” será altíssima. Chegará a 1 km. Os modelos atuais variam entre 50 e 100 km. Será possível monitorar em tempo real o transporte de calor na formação das nuvens até agora realizado por estimativas. Esse transporte de calor tem grande importância na previsão de grandes tempestades.
Implementado, grande parte das informações estarão acessíveis a todos. Cientistas governos e empresas poderão fazer simulações próprias antevendo os acontecimentos após a aplicação de uma política pública ou climática na sociedade e no meio ambiente. O “DestinE” fará ainda mais. Será um formador de especialistas nessas áreas.
E o Brasil? Na afirmação de Pedro Dias, do IAG-USP, “Nós não somos pés-rapados” quando o assunto é modelar sistemas climáticos. Muita gente trabalha com isto aqui. Com eventuais colaborações o “DestinE” trará benefícios ao país. Bom é torcer que não dependa dos negacionistas.