Bomba

Corria, o mais rápido que podia, na tentativa de escapar da onda de choque que aquela notícia, como uma bomba, produziu. Sabia que as consequências seriam catastróficas e não tinha a menor ideia de como lidar com elas.

Mas antes, quando tudo começou, parecia que a solução para seus problemas havia sido enviada como um milagre, atendendo suas preces silenciosas, noite após noite engasgando-se com seus soluços. Identificou nele a saída de emergência daquele relacionamento degenerativo que a vinha transformando, lentamente, em um zumbi. Ao vê-lo, sentiu um calor que borbulhou cada gota de sangue que havia congelado em suas veias e a vida voltou a pulsar em seu corpo adormecido.

O desejo que ele demonstrara por ela e pelo corpo que tanto a in-comodava, devolveu-lhe seu olhar provocante e a perspicácia das falas sedutoras. Passou a se sentir atraente de novo e isso a impulsionou na direção de não perder esse sentimento. Passou a se alimentar melhor, voltou a exercitar-se e escolheu uma de suas habilidades profissionais para focar.

Ela via nele um objetivo, um condutor para auxiliá-la na dura missão que não conseguia cumprir sozinha: ressuscitar. Aproximou-se dele e passou a se permitir sensações que se negara nos últimos anos. Uma espécie de gratidão a um passado a impedia de seguir adiante com sua vida e a nutrir sua felicidade. O efeito que ele teve sobre ela provocara uma reação em cadeia irreversível, que destruiu o que a ligava àquele passado e abriu espaço para o novo. E o novo era ele.

Ao confiar seus sentimentos ao seu salvador, sentia-se extremamente vulnerável, mas viva. Com medo do que viria, porém confiante. Foi quando ele verbalizou a tal notícia que, como uma bomba, produziu uma onda de choque que abalou toda a estrutura que havia reconstruído. Sem saber como lidar, correu. A areia da praia virou sua pista e o tempo parecia suspenso. Correu até estourarem bolhas nas solas de seus pés, materializando as feriados que acabaram de ser abertas.

Sem aguentar mais um passo desistiu da fuga. Lembrou-se de tu-do o que vivera até ali, de todas as pessoas que ainda estavam por per-to, das que a haviam abandonado e refletiu sobre o papel que todos os encontros têm em nossas vidas. Cada pessoa cumpre uma jornada e, durante o percurso, vai se modificando e produzindo mudanças em todos que se cruzam no caminho.

Ela lamentava a despedida, afinal fora confrontada por uma inconveniente verdade: “eu não sou sua tábua de salvação. A redenção é interior!”

Percebeu que ele fora apenas a fagulha que acendeu o pavio e que ela era a verdadeira bomba. Que corram aqueles que não suportarem a onda de choque da sua explosão, porque ela, ah, ela era uma bomba atômica! Sentada na areia vislumbrando o por do sol, sentiu a brisa deslizar por seu rosto, deixando o pavio queimar.