MODA FASHION... PARA QUEM ?!

MODA FASHION... PARA QUEM ?!

"Elas refletem preferências e estilos, servindo como

narrativas de períodos, movimentos e sociedades; e

podem nos contar histórias, como a hierarquia social".

ANA CAROLINA VALENTE (in "Revista LEAL MOREIRA",

ano 10, nº 4, pag. 165, Belém, PA, 2014)

Quem penso que a epígrafe acima se refere a roupas, enganou-se... fala de CADEIRAS, que nos acompanham desde que os Pithecantropus, já de pé, sentavam em troncos ou pedras. Na Antiguidade, cadeiras eram para reis e nobres, diz a revista, "no Egito Antigo (...) somente os faraós podiam aproveitar de toda a imponência dessas peças". Já na Roma machista e bélica, continua o texto "apenas homens utilizavam dessa mobília, (...) consideradas objetos exclusivos de seu dono (...), não podendo ser replicada". As primeiras noções sobre Moda, a preocupação com a roupa que se vai vestir, o tipo de tecido, a cor -- o vermelho era só para reis -- parece ter surgido no Egito Antigo ou na Grécia dos deuses e heróis, no entanto pouco se sabe sobre os costumes milenares de chineses e indianos, estes dominando o "batik", técnica de colorir tecidos. Árabes e turcos (uai, não são a mesma coisa ?!) também tingiam tecidos e essa prática teria chegado à Europa entrando pela Itália.

Meus esparsos conhecimentos só vão até aqui e não garanto a precisão de nada do que escrevi. O que me interessa é saber PORQUÊ a Moda se disseminou no Mundo inteiro e de tal forma que se é impossível voltar atrás. O primeiro troglodita que se levantou "sobre as patas traseiras" foi também o primeiro caçador... é uma questão de lógica ! Se por um tempo jogaram fora as peles de animais, adiante passaram a aproveitá-las. Da Natureza o agora "Erectus" copiou a "identidade de grupo", que viria a ser a "alma" da Moda. Assim, pela roupa, identificamos o médico, o "hippye", o soldado, o servente, o aluno desse ou daquele colégio. Ao chefe do bando "das cavernas" coube a pele mais vistosa, os demais andariam nus.

Não, não foi só no Paraíso que isso aconteceu... escravos (mulheres não são citadas nunca) tanto no Egito quanto na Grécia antiga andavam nus, segundo relato do historiador Carl Grimberg e pelos desenhos de suas conquistas, que deixaram esculpidos ou inscritos nas rochas. Em "HISTÓRIA UNIVERSAL", vol. 4, "Emerge a Grécia", o pesquisador usa 2 páginas para falar do ILOTA, "propriedade da nação, uma espécie de "servo do Estado", posto à disposição de particulares para o trabalho da terra". (pags 4 e 5) Isso sucedia em Esparta,eterna inimiga de Atenas, poucos sabem disso, e que se combateram por mais de 400 anos. Enquanto espartanos andavam nus, os soldados no caso, atenienses vestiam-se com esmero, luxo até e curtiam as coisas boas da Vida, Só os que "caíam em desgraça" junto aos "arcontes" (espécie de senadores da época) ou diante do "tirano" do dia se tornavam escravos, devido às calúnias, perdendo todos os seus bens, quando não a vida.

Outros tinham que abandonar a Grécia por 10 anos, rumo à Sicília -- o famoso "ostracismo" -- voltando a ela sem nada.

Mas, onde entra a MODA nisso tudo ?! Imitando animais, cada classe social tinha seu modo de vestir e isso vem sendo trazido até nossos dias, tendo a França dos nobres e abastados levado o costume "até à cabeça". Nobres egípcios já usavam peruca sobre a cabeça raspada, contudo na Idade Média isso virou "um direito" da nobreza e da realeza. E chegamos aos nossos dias ! O conceito de que a Moda precisa "ser cara" -- para ser só de alguns (ou de 1, apenas) -- é tão antigo quanto a "filosofia" que a sustenta. Nota-se pelas telas que, na Idade Média, embora com cortes iguais, cada nobre retratado tem seu próprio modelo / padronagem de tecido. É extremamente curioso que determinadas roupas só serão usadas uma vez, o vestido de noiva, por exemplo... já o de viúva se prolongará pelo resto da vida da sofredora. O objetivo dos "hippies" foi contrapor a "Moda ocidental" -- justa, apertada, sufocante -- à oriental, livre, leve e solta. Só não sei quando virou "roupa de mendigo", feita para chocar, agredir visualmente. Contudo o "Sistema", -- essa coisa híbrida "filha do Capitalismo" -- assimila rapidamente TUDO o que o contesta, anulando a proposta, o protesto, obstruindo o discurso pessoal.

Por volta de 1973/74 eu trabalhava em boutiques da Zona Sul carioca, onde tais lojas já "canibalizavam" a moda hippie, antes barata e simples e, nelas, custando pequena fortuna. Ironia do Destino... jovens ricas "trajando-se de mendigas", rasgadas, calças rôtas "envelhecidas" artificialmente. E a Moda, canibal, regurgita e "se devora" novamente, num "moto pertpétuo".

Coisas de 10, 15 anos são "revisitadas" agora, iguaizinhas, só os preços mudaram, pra cima, é claro. Nos anos 70, Denner e Clodovil inflacionavam o mercado da moda chique, no Brasil, Givenchy e Yves St. Laurent faziam o mesmo em Paris, outros mais, em Roma... o que justifica tais preços ?! a exclusividade ! Enquanto MODELO riscado no papel, tais vestidos estão em telas do Renascimento, Renascença, é só conferir. INOVAÇÃO -- no sentido de simplificar, adequar-se aos tempos -- só Madame Coco Chanel, criticada e combatida. Não há limite para os preços, 15, 20 mil reais é o mínimo. Enquanto objeto de desejo, uma cadeira ou mesa de "design moderno" (?!) pode custar a mesma coisa, porém será BEM MAIS ÚTIL, durando 20 ou mais anos, enquanto tais vestidos quase sempre serão usados uma vez só.

A MODA -- esta das passarelas e dita FASHION -- é sobretudo cruel, insensível à realidade que nos cerca, sem ver quantos comeriam (ou se vestiriam melhor) com o valor de uma peça dessas, feita para salões endinheirados e que nem pode ser usada na vida comum. Ah, sim, emprega dezenas de pessoas, aluga por fortunas carros, espaços e hotéis e "movimenta a Economia". ÓTIMO... para quantos, isso ?! E o que sobra de cada desfile, alguns eivados de racismo, segundo modelos negras ?! (*1)

Não fica nada, fora o que sai em páginas inteiras nos jornais... é um Mundo de FANTASIA, absolutamente irreal, semelhante aos desfiles de Carnaval, onde mulatas pobres sambam com calçados de 20 mil reais, cheios de cristais caríssimos, para voltar na manhã seguinte à mesma miséria, até o ano que vem !

"NATO" AZEVEDO (em 31/out. 2020, 6hs)

OBS: reproduzo abaixo trecho de reportagem recente comemorando os 25 ANOS da SPFW - São Paulo Fashion Week, no DIÁRIO DO PARÁ de 14/nov. 2020 sobre o "mercado da Economia criativa"... "(...) É um momento que exige mais criatividade para desbravar novos territórios. Afinal, a indústria da Moda está avaliada (globalmente) em 3 TRILHÕES de dólares, sndo a segunda maior atividade econômica mundial em termos de comércio - empregando mais de 57 milhões de trabalhadores em países em desenvolvimento, 80% deles, mulheres. E no Brasil, essa indústria traz 1,5 milhão de empregos diretos e é a maior empregadora de mão de obra feminina, segundo pesquisas do setor". (continua)