Os sons da saudade
Se você tem um pouco mais ou um pouco menos de sessenta anos, deve, como eu, ter saudades dos bailinhos em clubes ou nas garagens de casas dos amigos da turma, quando tinha por volta de 15 anos. Bons tempos aqueles de inocência, quando bastavam olhares correspondidos para que todo nosso corpo estremecesse.
Músicas românticas, sempre em língua estrangeira, embalavam nossas paixões e até hoje me remetem àquele tempo. Chego a sentir ainda hoje, quando as ouço, as mesmas emoções daqueles encontros.
Se fecho meus olhos, sou capaz de sentir o corpo de meu parceiro de dança, suficientemente próximo para que faíscas geladas transpassem meu corpo e levem minha mente de volta aos lugares romanticamente imaginados naquela época. Minhas mãos suam com a lembrança do encontro com a mão que me levava pelo salão, misteriosamente sinto um perfume marcadamente masculino que já não se encontra mais, e, na boca, um gosto de chiclete misturado com um aperitivo de martini branco. Meu corpo volta a ter quinze anos apenas e bailo pela sala, tentando eternizar aqueles momentos até que a música chegue ao fim.
O que a vida me deu após aqueles dias quase nada tem a ver com meus sonhos de então, por isso, um dos meus maiores prazeres hoje é ouvir os sons daquele tempo e que me trazem, num passe de mágica, além daquelas pessoas, minhas mais puras sensações.