Meu pedido de fim de ano
Lembro de pedir no último dia de 2019 muitas coisas: amor, saúde, sucesso, mais livros, etc. No entanto, o pedido mais importante foi, sem dúvida, paz. Só em ter isso eu já seria feliz o ano inteiro. Todavia, adivinha o que eu não tive um dia sequer em 2020? Isso mesmo, paz. O que eu ganhei foi um redemoinho bagunçando tudo o que eu tenho lutado em vão para deixar organizado, em seu devido lugar. Certa vez eu li que se queremos a paz, devemos estar preparados para a guerra. E, caramba, eu aprendi essa lição na própria carne, levando na cara da vida – e danada sabe bater forte.
Eu entrei em guerra sem saber como lutar ou que tipos de armas usar ou mesmo a identidade do meu inimigo. Tenho guerreado muito nos últimos tempos. De forma tosca, confesso. Eu já briguei tanto que parece que desaprendi como se faz uma boa briga. Hoje eu prefiro o silêncio a razão. Contudo, o universo resolveu brincar de pingue pongue comigo, testando os meus limites para ver até onde suporto. Só que eu tenho uma péssima notícia. Eu estou cansada. Sinceramente? Eu não aguento muito mais. Eu cheguei no meu limite. Honestamente, é preciso muita persistência para sobreviver nesse mundo tão hostil, com altas doses de fé e esperança. Mas o meu estoque está acabando e não vejo como conseguir mais. Às vezes me sinto apenas uma garotinha assustada com medo da própria sombra.
Tem sido um ano difícil. Para todos nós que compartilhamos esse oceano de incertezas. O meu barquinho tem chacoalhado bastante, mas segue firme atravessando as ondas. Só queria saber onde está o bendito farol me apontando um porto seguro? Porque aqui está um breu danado. Estou tateando a escuridão procurando terra firme.
Me desculpe o pessimismo ou alta dose de realismo nesses últimos dias. Eu tenho tentado meu poupar, porque percebi que em toda a minha vida eu tenho me doado por inteiro em todas as coisas que fiz, nas relações que tive e tenho, em todos os planos, mas nunca me doei por inteiro para a pessoa mais importante: eu mesma. Sempre me deixei na reserva por colocar outras coisas ou pessoas como prioridade. E isso me descarregou emocionalmente. Percebi isso esse ano, em que mais precisava do meu equilíbrio emocional e descobri que tenho estado na reserva e não há uma tomada onde posso recarregar.
Como disse o sábio Cartola e nós deveríamos ter escutado, pois toda frase que começa com uma interjeição é coisa séria: “Preste atenção, o mundo é um moinho /vai triturar teus sonhos, tão mesquinho /vai reduzir as ilusões a pó.” Foi isso que esse ano fez conosco. Pegou todo nosso entusiasmo de ano novo e euforia de carnaval e jogou um balde de água gelada. A ingenuidade é algo que deixamos pelo caminho esse ano. Mas deixando o meu pessimismo usual de lado, quero acreditar que dias melhores virão. O mundo até pode ser um moinho, mas à semelhança de Dom Quixote, vamos lutar com garra e derrotar esse gigante.