2020 não é duplicidade de 20
Aparentemente igual só ocorrerá daqui a cem anos, quando vier 2121, nós leitores desta crônica, não mais viveremos, por mais diversas razões. Mas essa sequência de números, em dupla, na numerologia, significará nenhuma predição de acontecimentos, sejam eles bons ou ruins. Percebo que o que foi planejado para se realizar durante este ano, que já está findando, nem tudo se fez. A área de comunicação compensou, sob tutela da internet, o isolamento, que nos foi imposto para se evitar que a epidemia atingisse a todos. Com ou sem pijama, uma mesa, uma rede, um computador substituíram auditórios, salas de aula, teatros, salas de cinema, shoppings e restaurantes fechados. Ninguém pensou, em meados de 2019, que o ano estaria para terminar. Atualmente a sensação, em outubro, é a de que já estamos nos derradeiros dias de dezembro ou o ano terminando. O coronavírus transtornou nosso calendário, hábitos e até costumes; levou-nos à prisão e à monotonia caseira, pela força da Lei, pelas notícias e por nossa própria precaução. Ficar em casa virou saúde preventiva.
Isso afetou o mercado de produção, e como ele é, economicamente, o principal mercado , estimo, isso trouxe consequências indeléveis. Os homens de negócio, preocupados, perguntavam: Quem vai produzir, quem vai vender, quem vai comprar? De repente, inventaram-se, pela necessidade, outras vias não tão convencionais, comprando-se pela internet e recebendo-se a encomenda por cima do portão, com as mãos dentro de um saco plástico, borrifando-se de álcool 70 os pacotes, embrulhos e marmitas. Contudo, neste ano, podemos catar coisas boas, ruins e algumas que nos inspiram pessimismo... Mas, a melhor foi a de não ter adoecido, haver escapado da peste, como aquela de Albert Camus ou a bubônica, de Giovanni Boccaccio, em O Decamerão. Mesmo assim, agora, observam-se certas irresponsabilidades desconsiderando o respeito pela saúde pública, soltando vírus por aí pelas mãos, pela respiração e pela boca. Há anúncios do retorno aos auditórios e às concentrações em praça, enquanto a foice mortal retorna aos países e estados por onde tinha passado para decapitar quem restou.
Afora as superstições e crendices, os repetidos e semelhantes algarismos dois e zero inspiraram promessas de duplicidade em tudo: negócios, bonanças e bem-aventuranças. “O dobro em tudo ou tudo em dobro”. Mas, infelizmente, em 2020, não há mais tempo para a abundância ou fartura de trigo e vacas gordas. No entanto, a opinião pública grita: Queremos vacina, venha de onde vier, desde que, comprovada cientificamente, ela nos cure; que a vacina vacine, para a peste ser dizimada. Se este ano se parece muito com a Covid-19, que o Ano Novo comece ainda nesta 2020, desfazendo essa indesejável caracterização. Que a vacina varra da face da Terra, em todos os países, em todos os estados, o mal que nos assola, que nos aflige. Creio que muito mais forte do que o simbolismo dos números e das suas coincidências são as venturosas circunstâncias; e mais significativas as circunstâncias coincidentes, que pouco têm relação causal com os números, ao que nos instrui a teoria de Karl Jung, na sua obra “Sincronidade – um princípio de conexões acausais”.