VIDA DE PROFESSOR (VII)
O exercício do magistério, tanto o de antes quanto o de agora, tem sido uma tarefa indigesta para o profissional que se dedica a ele no decorrer de sua vida. O corpo docente que ministrava suas aulas no passado sofria muito mais que os que as ministram atualmente. Ali, naquele ambiente escolar, carente de quase tudo, não havia as "facilidades" armazenadas no bojo do atual pesquisador Google e aquele professor que quisesse se diferenciar um pouco da maioria tinha que pesquisar em livros, que eram muito caros e, na maioria das vezes, deveras escassos nas bibliotecas escolares.
Devido à essa carência de recursos suplementares para pesquisas nas escolas, quando alguns alunos, mormente os mais dedicados, tinham alguma dificuldade para levar a bom termo suas aulas diárias, os pais que tinham algum recurso financeiro e que se preocupavam com o desempenho profissional futuro de seus filhos, os matriculavam numa escola ou curso particular paralelo àquela escola pública onde eles estudavam para que, assim, eles tivessem aulas semanais de reforço. Em geral, essa atitude proativa por parte desses pais dotados de visões futuristas, surtiria algum efeito positivo ao final do ano letivo e, por extensão, ao longo da vida de seus filhos.
Ainda tratando de escolas particulares que davam aulas de reforço, conheci, na segunda metade do século XX, um barbeiro profissional, que ao final de seu expediente diário, a sala de estar de sua humilde residência se transformava numa sala de aula particular. Ele não era um professor normalista com aquela formação básica dos demais professores que lecionavam nas escolas públicas municipais e estaduais de sua região, mas ele detinha um bom conhecimento das disciplinas mais exigidas em sala de aula, naquele momento histórico do ensino nacional, que eram a de língua portuguesa e matemática.
Suas aulas destinadas aos alunos que careciam de reforço escolar e/ou para aquelas pessoas que tinham a necessidade de melhorar seus conhecimentos básicos, sempre voltados paras essas duas disciplinas em específico, tinham início com uma espécie de prova avaliativa que, de forma indireta, selecionava os alunos que realmente desejavam continuar recebendo suas aulas.
Em geral, as desigualdades cognitivas existentes entre seus alunos, fossem eles oriundos da rede escolar, como daqueles que apareciam, ali, temporariamente, sobretudo no que diz respeito à bagagem de conhecimentos que cada um deles carregava, eram gritantes, mas isso não impedia que aquele abnegado professor leigo mantivesse acesa a chama de sua fé na disseminação diária de seus conhecimentos básicos para com aquela sua diferenciada clientela.
Certa vez, quando da realização de seus habituais testes avaliativos iniciais da disciplina Língua Portuguesa e essa, geralmente, feita em forma de ditado de palavras, sempre seguida da prova de Matemática, composta que o era por questões envolvendo as quatro operações, quando da correção de todas elas, ele se deparou com uma situação que chamou muito a sua atenção: naquele dia, a maioria dos alunos ficou abaixo da média, em contrapartida, o aluno "X" acertou todas as questões, mas o aluno "Y" não acertou, sequer, uma delas.
Meio desolado com o grau da disparidade cognitiva de sua clientela, em razão daquela amostra obtida quando da realização do seu primeiro teste avaliativo, sem querer elogiar prematuramente o aluno que acertou todas as questões e nem melindrar o aluno que tinha errado todas elas, ele assim se expressou:
- Sei que cada um de vocês está aqui com o propósito de apreender um pouco mais de conhecimento básico além daquele que já o detém, o que vejo como uma atitude muito salutar, mas também sei que, inegavelmente, cada um deverá se esforçar bastante para que isso realmente aconteça. As notas obtidas nessas provas avaliativas iniciais não servem para medir o grau do conhecimento básico de vida de cada um de vocês, em particular, mas elas servirão para direcioná-los no que diz respeito ao caminho que cada um deverá trilhar, a partir de agora.
Portanto, sugiro que guardem seus testes avaliativos, não os compartilhem agora com seus colegas e, em chegando às suas respectivas residências, os compartilhem, imediatamente, com seus familiares para que eles tomem conhecimento da real necessidade de aprendizado de cada um de vocês, em particular... E até amanhã, na nossa próxima aula.
Na noite do dia seguinte, no mesmo local e horário combinados, nem todos os alunos compareceram àquela segunda aula. Aqueles que ali se fizeram presentes e que, evidentemente, passariam a frequentar as aulas nos dias subsequentes, não teceram quaisquer tipos de comentários acerca das notas recebidas nos testes avaliativos do dia anterior.
Outros testes avaliativos foram feitos, regularmente, por aquele professor ao final de cada período letivo. Alguns de seus alunos, muitos deles já meio cansados com a árdua rotina de estudo diária, foram perdendo suas forças e acabaram por abandonar seus estudos em definitivo. Restaram apenas e tão somente aqueles que, desde o início, demonstraram excelso interesse em sala de aula e, em nenhum momento, perderam sua crença no empenho incontestável de seu professor quando do difícil exercício do magistério.
Devido à essa carência de recursos suplementares para pesquisas nas escolas, quando alguns alunos, mormente os mais dedicados, tinham alguma dificuldade para levar a bom termo suas aulas diárias, os pais que tinham algum recurso financeiro e que se preocupavam com o desempenho profissional futuro de seus filhos, os matriculavam numa escola ou curso particular paralelo àquela escola pública onde eles estudavam para que, assim, eles tivessem aulas semanais de reforço. Em geral, essa atitude proativa por parte desses pais dotados de visões futuristas, surtiria algum efeito positivo ao final do ano letivo e, por extensão, ao longo da vida de seus filhos.
Ainda tratando de escolas particulares que davam aulas de reforço, conheci, na segunda metade do século XX, um barbeiro profissional, que ao final de seu expediente diário, a sala de estar de sua humilde residência se transformava numa sala de aula particular. Ele não era um professor normalista com aquela formação básica dos demais professores que lecionavam nas escolas públicas municipais e estaduais de sua região, mas ele detinha um bom conhecimento das disciplinas mais exigidas em sala de aula, naquele momento histórico do ensino nacional, que eram a de língua portuguesa e matemática.
Suas aulas destinadas aos alunos que careciam de reforço escolar e/ou para aquelas pessoas que tinham a necessidade de melhorar seus conhecimentos básicos, sempre voltados paras essas duas disciplinas em específico, tinham início com uma espécie de prova avaliativa que, de forma indireta, selecionava os alunos que realmente desejavam continuar recebendo suas aulas.
Em geral, as desigualdades cognitivas existentes entre seus alunos, fossem eles oriundos da rede escolar, como daqueles que apareciam, ali, temporariamente, sobretudo no que diz respeito à bagagem de conhecimentos que cada um deles carregava, eram gritantes, mas isso não impedia que aquele abnegado professor leigo mantivesse acesa a chama de sua fé na disseminação diária de seus conhecimentos básicos para com aquela sua diferenciada clientela.
Certa vez, quando da realização de seus habituais testes avaliativos iniciais da disciplina Língua Portuguesa e essa, geralmente, feita em forma de ditado de palavras, sempre seguida da prova de Matemática, composta que o era por questões envolvendo as quatro operações, quando da correção de todas elas, ele se deparou com uma situação que chamou muito a sua atenção: naquele dia, a maioria dos alunos ficou abaixo da média, em contrapartida, o aluno "X" acertou todas as questões, mas o aluno "Y" não acertou, sequer, uma delas.
Meio desolado com o grau da disparidade cognitiva de sua clientela, em razão daquela amostra obtida quando da realização do seu primeiro teste avaliativo, sem querer elogiar prematuramente o aluno que acertou todas as questões e nem melindrar o aluno que tinha errado todas elas, ele assim se expressou:
- Sei que cada um de vocês está aqui com o propósito de apreender um pouco mais de conhecimento básico além daquele que já o detém, o que vejo como uma atitude muito salutar, mas também sei que, inegavelmente, cada um deverá se esforçar bastante para que isso realmente aconteça. As notas obtidas nessas provas avaliativas iniciais não servem para medir o grau do conhecimento básico de vida de cada um de vocês, em particular, mas elas servirão para direcioná-los no que diz respeito ao caminho que cada um deverá trilhar, a partir de agora.
Portanto, sugiro que guardem seus testes avaliativos, não os compartilhem agora com seus colegas e, em chegando às suas respectivas residências, os compartilhem, imediatamente, com seus familiares para que eles tomem conhecimento da real necessidade de aprendizado de cada um de vocês, em particular... E até amanhã, na nossa próxima aula.
Na noite do dia seguinte, no mesmo local e horário combinados, nem todos os alunos compareceram àquela segunda aula. Aqueles que ali se fizeram presentes e que, evidentemente, passariam a frequentar as aulas nos dias subsequentes, não teceram quaisquer tipos de comentários acerca das notas recebidas nos testes avaliativos do dia anterior.
Outros testes avaliativos foram feitos, regularmente, por aquele professor ao final de cada período letivo. Alguns de seus alunos, muitos deles já meio cansados com a árdua rotina de estudo diária, foram perdendo suas forças e acabaram por abandonar seus estudos em definitivo. Restaram apenas e tão somente aqueles que, desde o início, demonstraram excelso interesse em sala de aula e, em nenhum momento, perderam sua crença no empenho incontestável de seu professor quando do difícil exercício do magistério.