65

Fazer aniversário é bom, alguns festejam, fazem almoço, tem bolo, refrigerante. Vêm amigos, parentes, conhecidos, desconhecidos.

Fiz 65 agora, dia 25 de outubro. Que ótimo estarmos vivos, legal mesmo.

Festa é alegria – isso é bacana, é beleza.

Bem, completei 65. Excelente estar vivo, continuar respirando, vendo as manhãs, tardes, o céu, a chuva.

Gosto de outubro – não por ter nascido nele. Talvez sim, um pouco.

Mas outubro é um mês qualquer, como os demais. Agora com essa idade...

A vida anda, não para, não pode parar.

Mudei alguma coisa, para melhor?

Tenho para mim que sim. Pouquinho, um pouca mais – não sei bem.

Acredito que alguma coisa eu absorvi de bom, de construtivo. Somos mutantes, nossa natureza é mutante.

Fazemos muitas coisas, de bom, de não tão bom. Não fosse assim não seria um ser humano, de carne e osso.

Temos boas intenções – isso todos têm. O problema é colocá-las em prática. Eu, particularmente, trago comigo essa preocupação, de me transformar, concretamente.

É difícil? – Sim, é. Me analiso por dentro – percebo meus defeitos: intolerância, egoísmo, orgulho, prepotência. Há outros, vários outros.

Entendo que jamais irei extirpá-los de mim. Morrerei – e eles irão comigo junto. Tento controlá-los. Dominá-los. Domá-los. É o que posso (e devo) fazer.

Ao mesmo tempo tenho de cultivar as virtudes. Quais são? Humildade, paciência, amor ao próximo, perseverança, perdão, arrependimento.

Mudar requer exercício diário, a todo momento, com esforço redobrado. Sem esforço a coisa não anda. E nosso corpo físico e mental nem sempre tem disposição para isso, para nos tirar do comodismo emocional (e físico, principalmente).

Algumas vezes é o mau humor a nos fustigar. Ele vem sem nos pedir licença. Acordo – e ele comigo.

Aí eu preciso fechar os olhos. E rápida meditação, olho para dentro, para o fundo de mim. Com a mente o extirpo do peito, do coração. Não completamente. Não.

Calmamente me digo: ----- Esse mau humor não me é benéfico, ele me joga para baixo. Nunca o será.

Sou sutil por dentro, lá no íntimo, na “caixa-preta”, quanto aos meus defeitos. Sutil para os desarticular, para eles não me dominar. Não os enfrento de igual para igual, eu perderia.

Mas os venço na paz, na humildade emocional.

Mau humor e demais defeitos nos entristecem, nos rebaixam, nos faz discriminar os outros, ter raiva de quem à nossa volta está.

Prendo um pouco a respiração – e o abafo, abafo o mau humor, o sufoco. Penso em coisas positivas, alegres.

Faço algo que gosto – como escrever, ler, caminhar. Bem, o que nos “cutuca” a emoção, nos tira a paz, já percebi isso, são as preocupações, os desapontamentos, perdas, frustrações – e outras.

Na verdade não estamos livres de contrariedades, aborrecimentos. Não. Sempre os (as) teremos.

Meu exercício de momento a momento é me sentir sempre alguém importante, não no sentido de ser superior a ninguém – isso jamais. Essa tentação quase sempre está ao meu lado.

Fomos feitos assim, imperfeitos – e um pouco de perfeição também. Se quisermos nos aproximar dela, da perfeição, na prática, de verdade. Bem, aí estamos indo por um bom caminho.

Sei quando ando por esse bom caminho: é quando estou satisfeito comigo mesmo, minha consciência está leve.

Não me sinto prepotente, arrogante, orgulhoso.

Mas com a convicção de que os defeitos, os males, moram dentro de mim. Como disse antes, estarão comigo até minha ida eterna.

Sou humano.

Salatiel Hood
Enviado por Salatiel Hood em 28/10/2020
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