MINHA ?

Minha?

©AFDupre 14 jun 2018

Minha o quê? Minha mãe? Minha irmã? Minha amada? Minha mulher?

Não sei. Não consigo encontrar uma resposta. Quem está neste corpo inerte? A mãe dos meus filhos? Que espírito encarnas? Olho no fundo dos seus olhos, nada vejo. Nada dizem Não encontro resposta. Já não creio que o olhar seja o espelho da alma. Minha? “Se você quer ser minha namorada...” Minha ainda? Trago-lhe flores, não vejo, como outrora, nenhuma demonstração de prazer. Minha tristeza? Minha culpa, minha máxima culpa? “Mea culpa”? Tudo o que fiz foi para o seu bem. Para o nosso bem! Minha desgraça? Socorro, já não aguento mais! Desde que entraste em letargia , fiz de tudo para que voltes. Para ser meu amor Ser minha! Alô, fala comigo! Onde está aquela voz estridente típica de ti, minha professora? Fala comigo, minha amada! Deito ao seu lado, ouço o arfar da tua respiração, percebo o pulsar do teu coração mas a nenhum estímulo reages. Te cubro de flore, nada! Triste a minha sina! Tirei férias, entrei de licença, me aposentei, tudo para estar contigo minha querida! Nossos filhos não podem cuidar de ti..Têm o seu dia a dia. Já não fazem parte da tua, da minha, da nossa rotina. Desisto, já não és mais minha. Vou dar uma olhada no jornal, ler alto para que ouças minha voz. Surpresa! Folheando as páginas vejo a seguinte notícia em destaque: “ Estreia hoje no teatro Dulcina monólogo “MINHA” do renomado autor Wilson Sayão. Ufa, quem sabe encontrarei no teatro a solução da minha angústia. Vou assistir. Multidão na bilheteria. Consigo lugar na última fila.

Sobe o pano. No palco o autor diante de um leito onde se encontra uma atriz estirada como morta, olha para a plateia e, - incrível-, seus olhos cruzam com o meus. Parece que está lendo Minh’alma! Começa o monólogo. Me vejo no palco como se estivesse fazendo narrativa da minha vida, da minha angústia. Termina o espetáculo. A plateia aplaude de pé. Gritam entusiasticamente: -Sayão, Sayão! Com certeza, mais uma tournée de sucesso deste magnífico autor Wilson Sayão!

Volto para minha casa no Eng de Dentro, olho para minha amada, reflito e digo para minha plateia invisível:- Sim, a arte imita a vida. A A minha vida?

MINHA?

AFDupré
Enviado por AFDupré em 27/10/2020
Código do texto: T7097287
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