Pandemia
Naquela noite a chuva inundou meu sono nada tranquilo.
Ao acordar o cansaço tirou qualquer vontade de levantar-me da cama.
Mesmo assim, seguindo o ritual diário, contrariei o meu desejo. Dirigi-me à janela abrindo-a para um dia ensolarado. Era tudo o que precisava naquele momento, já que o sonho me havia perturbado tanto a ponto de pensar que nunca mais veria o sol.
A reclusão dos últimos tempos, em razão da pandemia, tinha transformado minha cabeça e a minha rotina. Estava sem norte, sem toque. A solidão, minha companhia desde o início, já estava cansada também.
Vesti-me, fiz minha toilette e, sem sentir, atravessei o corredor em busca do nada.
Tomei café, afaguei o meu cachorro e fiquei por minutos sorrindo em silêncio ao ver o passarinhedo livre, saracoteando de um lado para outro.
Em retomada mecânica liguei o computador e, na busca por entender o momento, escreví um enorme relato sobre o que estava vivendo para deixar para minhas sobrinhas, que provavelmente terão uma trajetória de vida totalmente diversa da minha.
Lí alguns artigos antes de iniciar um trabalho e percebí a necessidade de aceitar, sem revolta, um futuro totalmente diferente.
Agradecí por estar viva e joguei-me de cabeça no trabalho.
O meu propósito de vida não poderia ser deixado de lado. Havia muito o que construir e muita estrada por trilhar.
Set/2020
Crônica escrita para a atividade "Pandemia" do Grêmio Literário Patrulhense