Um desengonçado Daniel
É comum livros nos quais os autores escrevem expondo seus problemas. Todos nós temos problemas. Eles são de toda espécie, Alguns inimagináveis antes de contados. Não coloco esses livros na estante de autoajuda. Como exemplos cito dois. Bem antigo, um é “Feliz Ano Velho” do Marcelo Rubens Paiva. “Razões para Continuar Vivo” é o outro. Matt Haig conta sua luta contra a depressão durante três anos. É assustador!
”Daniel, Daniel, Daniel” da Editora Rocco é uma leitura maravilhosa. Dessas que não se quer parar. Só na nota do autor no final do livro descobriremos ser mais do que um romance de ficção. Wesley King escreve: “O Daniel desta história, é de muitas formas, uma representação quase autobiográfica de mim mesmo naquela idade”.
Protagonista, Daniel é o garoto estranho e desengonçado da escola. Escondendo suas estranhezas de todos, não tem noção da sua doença. Um transtorno mental. Os passos contados até o banheiro. A quantidade de vezes que acende e apaga a lâmpada. Seus rituais que duram até cinco horas antes de se deitar para dormir.
Todos os acontecimentos dependerão do Daniel. Não gosta de futebol americano. É reserva do time da escola. Nunca joga. Sua única missão é encher os copos com Gatorade para os outros jogadores tomarem. Um dia, o titular da sua posição se machuca. Daniel terá de substitui-lo até a final do campeonato. Ganharão?
Meninos estranhos e desengonçados geralmente se apaixonam pela menina mais bonita da escola. Por inúmeros motivos essa paixão precisa ser reprimida. Daniel não foge à regra. Essa paixão tem o nome de Raya. Quando o sinal para o amor fica verde, Daniel descobre que seu coração já é habitado pela Sara.
Conhecida na escola como “PsicoSara”, a menina não fala com ninguém. Então Daniel recebe bilhetes pedindo ajuda para investigar um crime. São de Sara. Ela tem certeza que o seu padrasto assassinou o seu pai. Sua mãe pode ser a mandante. Agora Sara só fala com o Daniel com a percepção de que os dois são “crianças das estrelas”. Sara percebe que seus transtornos são parecidos. Oferece para Daniel ler um livro sobre o transtorno obsessivo-compulsivo, o TOC. Daniel se descobre um doente. Resiste antes de pedir ajuda. O sonho de ser “crianças das estrelas” termina.
O protagonista Daniel também está escrevendo um romance. Nele o protagonista Daniel em primeira pessoa foi o responsável por todos os humanos desaparecerem do planeta. No princípio Daniel está sozinho. Depois Sara aparece no enredo para ajudá-lo. Além de estarem fugindo de alienígenas, os dois precisam reverter o processo e trazer os humanos de volta.
Wesley King diz ter escrito o livro precisando lutar contra o seu transtorno obsessivo-compulsivo todos os dias. E deixa endereços de buscas para ajuda, inclusive no Brasil.