Op-Art: a origem
 
     É um incômodo à lógica ver andar o que está parado...
     E por isso os mágicos ainda fascinam.
     E por isso a tentação de desvendar o truque da arte que quer iludir.
     É tão simples, porém, como fazer um bolo seguindo uma receita.
    A vivência de um tempo em que o pão foi fruto não só do suor do rosto, mas de sangue e lágrimas também.
     Um tempo em que o deitar e o descansar foram atos mecânicos, rituais, mas que não lograram sua meta.
     Um tempo em que a mente doente não morou num corpo que foi são.
     Em que o transcendente não foi buscado.
     Em que o próximo, mesmo o consanguíneo, não foi sentido.

  Depois do deserto, vem o oásis. Nessa madrugada seus olhos possivelmente se abrirão antes do galo cantar. Pesado e realizado, por alguns instantes antes do sono novamente se apossar, você terá acesso ao espetáculo se, e somente se, mais que olhar, verdadeiramente ver, como um ato volitivo, o quê se passa na tela de suas pálpebras, com seus olhos fechados mesmo. E toda arte ótica, então, será desvelada:
   Milhões de cinéticos pontos, retas, polígonos e figuras numa imensa e maravilhosa dança de andorinhas;
     A harmonia inimitável de cores e formas, indo das lógicas, como Vasarely, às aparentemente ilógicas, como Pollock;
     A sincronia em uma perfeição inefável;
  A surpreendente metamorfose dos objetos em ritmo alucinante, mas conexo; poético, mas matemático;
   A indômita teimosia estética contemplável por muito breve instante, cujo artista poucos buscam agradecer, pois poucos dão atenção à sua obra.
     Então, quem tem olhos veja o que esse espírito tem a mostrar!

09.08.20