Canário Ordinário
ACHO que o poeta Paulo Mendes Campos foi um dos melhores cronistas do país. Lembrei dele ontem quando discuti com alguém, pelo telefone, sobre animais de raça e animais comuns. O amigo está orgulhoso porque está criando um cachorro de raça. Nada contra, mas caí na besteira de dizer a ele que tanto faz um animal de raça como um comum,um cachorro comum para mim temo mesmo valor de um vira-lata. Fui mais rude, disse que o vira-lata era mais cordial. Discutimos. Deu empate. Mas sei que o amigo ficou ofendido. Quando desliguei o telefone, lembrei de um trecho de uma crônica de Paulo Mendes Campos, "O Canarinho". Vou transcrever um trecho:
"Era um canário ordinário, nunca lera Bilac, e parecia feliz em sua gaiola. Nós o amávamos desse amor vagaroso e distraído com que enquadramos um bichinho em nossa órbita afetiva. Creio mesmo que se ama com mais força um animal sem raça. um pássaro comum, um cachorro vira-lata,o gato popular que anda pelos telhados. Com os animais de raça há uma afetação que envenena um pouco o sentimento, com os bichos comuns, pelo contrário, o afeto é de uma gratuidade que nos faz bem".
Fico com ocanarinhoordinário ecom o viira-lata. Inté.