Zona de Conforto.

Por que odiamos tanto quando as coisas não acontecem exatamente como esperamos?

Não se explica por que odiamos quiabo ou não conseguimos ser simpáticos num primeiro encontro. Explica-se a relação entre o aumento do dólar e a crise da Argentina, mas não por que amamos alguém. Eu por exemplo: odeio, irrito-me, quero estar próxima. E aí eu fico perdida. No exato momento em que me percebo inapta para racionalizar, o chão se abre. A boca seca.

Meus quatrocentos anos de estudo e leituras não servem para nada.

Minha mente embaça como espelho de banheiro.

Fico nervosa...

Confusa...

E então noto que só aprendi a lidar com o programado: pagar contas, ganhar dinheiro, brincar com meu filho, comer no mesmo restaurante com as mesmas pessoas no mesmo dia da semana - e me encontro na minha conhecida zona de conforto. Na rotina, sua segurança.

"Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação."

Você não se enquadra na descrição? Eu me enquadro perfeitamente! Ah! Adoro aventura e planejo viajar pra praia de moto! E agora me pergunte se eu fui alguma vez? Claro que não...esse tipo de planejamento nunca sai do papel. É normal do ser humano planejar, sonhar, imaginar... Assim como planejamos em qual cargo estaremos daqui a um ano, ou qual desculpa iremos dar para não almoçar na casa da mãe do próximo domingo! Sei. Mas, imagine se por um acaso qualquer você fosse demitido, ou se sua mãe não te chamasse para almoçar no domingo seguinte, o que aconteceria?

Ficaríamos perdidos. Desorientados. De repente, estaríamos jogados num território novo e perceberíamos que só sabemos lidar com injeção eletrônica, fibra óptica, computador e avião, mas ignoro completamente o que se passa em mim. Notaria que dediquei a vida a compreender e explicar o que acontece ao meu lado e ignorei solenemente aquilo que não se coloca numa tabela do Excel, que nenhum gráfico mostra.

Noto então, que não prestei a mínima atenção em mim mesma porque estáva ocupada demais verificando meu extrato.

E com isso só consigo não viver - como chocolate e não fecho os olhos para catalisar o sabor do creme se derretendo na língua. Leio centenas de livros e não me sinto tocada por nenhum. Passo pela vida. E só.

"Como se explica que o maior medo seja exatamente o de ir vivendo o que for sendo?"

Não se explica. Nem é preciso. Basta nos convencermos de que não precisamos inferir intelectualmente cada detalhe da vida.

E será que é preciso?