Asilo para idosos






N
a minha infância eu tive uma amiga muito próxima e querida, e ainda hoje somos amigas, agora meio que estremecida a amizade... Por conta de fatos... Temos uma diferença de idade apenas de uns quase três anos, eu sempre a admirei muito, na verdade eu era fã do Jerry Adriani e ela era fã dos Beatles, havia entre nós disparidade, eu sempre sonhadora e romântica, ela prática e resoluta... Ela muito mais modernizada que eu... Mesmo ela não sendo lá essa doçura, produzíamos desfiles de meninas brancas e negras, na rua em que morávamos, sempre fomos socialistas anti racistas e nada homofóbicas, mesmo em nossa ignorância, onde dávamos prêmios para as garotas vencedoras em beleza e simpatia, do primeiro, até o terceiro lugar.

Comecei a trabalhar cedo, dava aula para algumas crianças,
alfabetizando-as... O tempo passou e cada uma de nós tomou o seu rumo, mas continuamos sempre amigas, nos encontrávamos, almoçávamos juntas ou jantávamos,  e sempre colocávamos em dia as nossas alegrias ou dissabores...

Houve um tempo que por coincidência, nos separamos, e precisamente ela com três filhos e eu também. Fazíamos festa, juntávamos os seis filhos e saímos para a praia eu, ela e as seis crianças. Era praia, piscina, parquinho ecológico ou teatro.

Sentíamos na pele os mesmos preconceitos por sermos separadas, e os motivos certamente todos do bairro se aprofundavam em saber, se a culpa teria sido do homem ou da mulher, sim, a sociedade é machista...
Nunca nos ligamos em tal fato. O tempo passou e muito nos afastamos por um longo tempo, até que sem eu saber onde ela estava vivendo,
soube que o pai dela, muito amigo do meu pai, estava vivendo e vive,
em um asilo para idosos e que na verdade só fiquei sabendo porquê trabalho na Secretaria de Proteção Social e Justiça, ele sabendo disso através
de um vizinho da minha mãe, mandou um recado para mim. Pedindo socorro!!! SOS...

No mesmo instante procurei saber dela, onde andará a minha amiga de infância e adolescência, enfim, por aí vai... Foi difícil achá-la.
Depois de muita luta, consegui localizá-la, eu muito triste,
e penalizada com a situação do pai dela,  sem querer abordá-la de cara, assuntei, fui conversando aos poucos, querendo me inteirar da situção,
mas sem qualquer sinal de menção sobre o pai ou a mãe.
A mãe dela e o pai, foram de muita importância na minha infância
e dos meus irmãos, depois falarei sobre isso... 

Que tristeza, a conversa rolou por horas e nada dela falar no S. Antonio,
até que não aguentando mais, perguntei... _Como estão os seus pais?
Nunca mais soube de vocês, e muito menos dele, andei falando com
o seu irmão, e através dele foi que pude manter contato com você
que me parece tão distante... _ Ouhh amiga infelizmente não tenho
contato com o papai, a mamãe continua morando no mesmo lugar,
deixei a minha casa para ela... Soube que o meu pai está internando,
porém moro aqui na Bahia, e tenho evitado me envolver com problemas
de família, sabe, eu já sofri tanto tô nem aí sabe amiga, quero viver
a minha vida... Estou Zen  _ Mas, é o seu pai, eu soube que ele está
em um abrigo para idosos através dele próprio, que me enviou um
recado pedindo socorro, e que ele está sofrendo muito... A ligação simplesmente caiu... Caiu??? _ Alô...Alô!

Gente, eu não suportei ouvir aquilo, chorei, sou uma manteiga da terra derretida, apressei em ligar novamente e não consegui...
Em seguida fui ao abrigo onde ele se encontra, a felicidade dele
quando me viu foi inesquecível, ainda estou aqui pensando, e tocada... 
Como uma filha pode ser tão fria e abandonar um pai em um asilo
para idosos e simplesmente esquecê-lo.

Ele nunca fez mal a ninguém, eu nasci e vivi vizinho à casa deles,
eu e meus irmãos, eles eram maravilhosos conosco,  e ele sempre foi
um pai muito presente, amigo. Estou trastornada. Se continuo amiga dela?
... O que sinto mesmo é uma dor que não tem tamanho.
Só o tempo dirá.



 
Liduina do Nascimento
Enviado por Liduina do Nascimento em 20/10/2020
Reeditado em 20/10/2020
Código do texto: T7091841
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