A MOÇA TRISTE
Nesta noite, no ponto do ônibus, uma moça chorava
Tentava se conter, tentava disfarçar
Não conseguia
As lágrimas teimavam em rolar.
Discretamente, eu tudo via
E fingia que não percebia
Outros transeuntes, de rogados não se faziam
Olhavam fixos pros olhos da moça, aumentando sua agonia.
Sem lenço na bolsa
As costas das mãos acudiam
Secavam seu pranto em vão
Aquela aflição não cedia.
Apiedei-me dela, quis ir até lá
Mas eu sabia que não devia
Assustaria a moça, causaria estranheza
E minhas palavras soariam vazias
Neste instante, meu ônibus chegou
E, por pouco, eu quase não subia
Queria ficar ali, de longe, cuidando dela
E, mesmo no anonimato, fazer-lhe companhia.
O veículo partiu devagar
E eu parti com o coração partido
E, ao longe, através do vidro, eu ainda a via
Ela nunca saberá que levei parte de sua tristeza
E que nenhum outro estranho desejou tanto sua alegria.