Aulas remotas: o céu não é o limite
Uma pergunta no ar diz respeito às dificuldades que o professor enfrenta atualmente com as assim chamadas "aulas remotas". Essa expressão me faz pensar em aulas misteriosas, que vêm do além, algo assim. Há um contexto de repente em formação e para o qual os professores olham sem entender e sem saber muito como se posicionar. Assim mesmo, o enfrentam, corajosa que é essa classe do magistério. As dificuldades do professorado são as mesmas que há muito existem, só que trocaram a antiga roupa pelo novo modelito digital.
Ainda me recordo da figura do auxiliar de classe. Era aquele colega que, ainda em formação, permanecia na sala ao lado do titular. Resolvia tarefas importantes, no Curso Primário, a exemplo de acompanhar cada criança na resolução de problemas, na cópia de lição, fazendo a chamada, apagando o quadro onde o regente oficial exporia as temáticas, os esquemas para desenvolver sua aula. Esse tipo de auxílio de que dispunha o mestre, sumiu.
No Ensino Médio, ainda alcancei no Colégio Atheneu, outra figura, a do auxiliar de disciplina que, sentado à entrada da sala de aula, acompanhava a movimentação dos estudantes vindo do intervalo. Ainda me recordo de Dona Domitila, que dizia: “Vão sentarem-se”. Sim, desse jeito mesmo. Ela vendia salgadinhos bem simplinhos aos alunos. Era tão pobrinha a Dona Domitila. Que Deus a tenha na glória, pois se tem algo que ela merece é estar entre os eleitos do Pai.
Os professores do Curso Clássico, no Atheneu, vinham conversando com seus colegas pelos longos e claros corredores do famoso colégio público. Revejo o professor de Desenho, cujo apelido era Parábola. A Professora Glorita era o sinônimo da elegância, ainda que de estatura baixa, mas sempre bem vestida e calçada, e usando suas joias legítimas. Sorridente ela entrava na sala e dizia: “Bonjour, mes éléves”. Bastava que um aluno elogiasse a elegância da mestra para que ela ficasse toda desmilinguida, sorrindo ainda mais. Esses e outros professores passavam o intervalo na sala deles, ao redor de uma mesa gigantesca onde eram distribuídas as cadernetas (Diários de classe). Tomavam cafezinho e dialogavam animadamente. E a gente ali, sonhando no dia em que estaríamos naquela sala como professores, claro! O meu sonho se realizou. Tanto era o conforto e a dignidade dos mestres, mas, ainda sob o efeito do papo no intervalo, chegavam à sala de aula sem as cadernetas. Logo as Domitilas e os Domitilos se prontificavam em buscar as ditas cujas na Sala dos Professores. Que tempo bom, mas acabou. Professor a coisa alguma tem direito... É pau pra toda obra.
“De repente, não mais que de repente”, surge um mundo novo, o das aulas remotas, quando precisaríamos de uma equipe, assim como nas emissoras de TV. Penso que, de certa forma, piorou tudo, pois nada sabemos do mundo tecnológico e nem temos como dominar tantas ferramentas importantes e disponíveis. Mas, enfim, é enfrentar a nossa sina.