OLHANDO PARA O PASSADO SEM ME DESVENCILHAR DO PRESENTE

   Eu "vejo" aquelas luzes que tanto me entusiasmava, era uma completa felicidade para um menino que não tinha sonhos, não tinha nada, apenas se conformava com aquele momento de perfeita magia. As luzes eram de enfeites em uma árvore de Natal que causavam deslumbramento, me encantavam pela sua harmonia no piscar. Em plena praça pública lá estava aquela homenagem ao dia dedicado ao nascimento de Jesus, muitos paravam para admirar tamanha beleza. Como ficava quase defronte a minha casa, mal anoitecia para lá me dirigia para ver de perto aquele espetáculo que me seduzia. Nas mãos um brinquedo, presente recebido de um padrinho, um pequeno carrinho de plástico que se tornou predileto. Outras crianças ali estavam, tinham também o mesmo prazer que eu tinha.

Hoje, depois de várias décadas, tendo ao meu lado mulher, filhos e netos, recordo aqueles tempos, sorvo alguns goles de vinho de boa qualidade, contemplo aquela praça mas não vejo aquela árvore tão bonita, tão majestosa, que me arrancava suspiros na infância. Aqui estou olhando essa turma de agora que desconhece o que é saudosismo, o que é felicidade verdadeira. Sinto que algumas lágrimas querem escorrer pela face, mas procuro me controlar e não deixar transparecer uma certa tristeza. Aqui, neste momento, também está ótimo, vejo que a felicidade entre os que estão ao meu lado é de certa forma aceitável, mas não se compara a minha naqueles idos tempos de perfeita alegria de uma criança sem sonhos para o futuro. Fui feliz no passado, sou feliz no presente, apesar da diferença na essência de cada momento.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 18/10/2020
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