Angola, nossa história nossas gentes( o gorila garçom)

O Exército português espalhava-se por todo o território angolano durante a guerra colonial, mas nem só tristezas e más lembranças ficaram de toda aquela época de guerra.

Houve muitas histórias bonitas a se contar, lugares belos para descrever e momentos fantásticos ali vividos que jamais serão esquecidos.

Barreiras a transpor, muitos desafios a enfrentar por rapazes tão jovens e por isso mesmo tão despreparados mas , no entanto sempre fazendo de tudo para se adaptarem com coragem e desprendimento às condições oferecidas naqueles locais longínquos.Nem sempre era sacrificante. Angola era cheia de lugares deslumbrantes, não só no litoral quanto no interior: “lugares de fim do mundo”, como se dizia e, talvez por isso inesquecíveis.

Até hoje conta-se a história muito divertida de um grupo de soldados portugueses aquartelados na Província do Cuando-Cubango , África Austral, mais precisamente na coutada da Luiana perto da fronteira da Namíbia na época ainda posse dos sul africanos.Região lindissima do interior de Angola ao longo do rio Cubango , a chamar-se Okavango quando já além fronteira, em território da Namibia.

Era um encanto, aquela região! De uma paisagem natural só vista na esplendorosa natureza africana , tal sua vida animal : única, como é o próprio continente africano.

Até ao inicio da guerrilha em 1961 havia no Luiana uma Estalagem onde ficavam os caçadores em temporada de caça que era permitida mas, com um numero de peça a caçar e sempre com controle rigoroso da espécie.Chegavam grupos vindos da Europa, principalmente, gente influente e de muitas posses. Grandes encontros foram regados aos melhores vinhos e champanhe francês e abrilhantadas com as mais “finas” presenças. Contava-se que lá, nessa estalagem, teria sido enterrado um grande tesouro com tais preciosidades de mesa o que deixava naquele lugar um clima de maior glamour.

Guerrilha de selva naquele local por volta de 1966 e a linda estalagem foi destruída deixando o dito tesouro debaixo dos escombros, época em que acabaram as visitas de caçadores .Por ali apenas a guerrilha e soldados portugueses que se desdobraram para encontrar o tesouro mas ...nada!Nem sinal dele.

Ali à frente um espetáculo da natureza , o parque da Luiana com toda a espécie animal que se poderia imaginar e por ali ficar, mas como estavam muito próximo da Namíbia deslocavam-se para locais além fronteira ; as visitas aos sul africanos, ao quartel da Namibia em Botsuana eram freqüentes.Ó , maravilhas do deserto do Kalahari! E é nele que deságua o maravilhoso rio Cubango, único no mundo que não desagua no mar.

Idas a terras além fronteira tornou-se um hábito na verdade, mas o que os levou até lá pela 1ª vez foi a estória de uma grande confusão sobre a investida policial a um restaurante da povoação com um gorila a servir como garçom.

Lá forem eles. Rios, picadas e pântanos , fronteira atravessada e lá chegaram à pequena ilhota do delta do Okavango , região onde estava o tal gorila a trabalhar.E a história do gorila foi-lhes contada pelo próprio dono do restaurante, pai do divertido animal.

Tinha sido encontrado ,ainda bebé , abandonado na selva da República do Congo após a mãe ter sido morta por caçadores. Ao ser levado para uma feira indígena foi vendido para o futuro pai que estava por ali de passagem.E assim foi, o gorila bebé ganhou uma família em Botsuana.Vivia feliz dentro do restaurante como se à família pertencesse. Pela convivência tão próxima adquiriu hábitos humanos ao ponto de andar ereto apenas com as pernas traseiras; foi então que os amigos foram ter com o pai do gorila e perguntaram:

-“ ó homem, mas então andas sempre com problemas de funcionários para trabalhar contigo e por quê não pões o gorila aqui de garçom?”

_-“mas não é má idéia , não .Ele na brincadeira já vai fazendo tudo e só falta acertar com os pedidos. “

Dito e feito. O gorila foi “contratado” para servir às mesas e o problema dos pedidos solucionado. Os clientes escreviam e o gorila entregava o papel no balcão.

E o tempo passou, tudo corria muito bem até que um grupo de janotas caçadores chegou à estalagem para almoçar. Restaurante cheio e muita confusão, naquele dia.No meio da tarde e já cansado de tantas bandejas, o pobre do gorila deixou cair uma garrafa de cerveja em cima da fatiota de um dos chiques caçadores do grupo.

-“ ah, seu macaco desastrado, sujaste minha roupa e agora como vou caçar deste jeito ? Macaco feio !!!”

O gorila não gostou nada do tom de voz do caçador olhou-o de frente, avançou e PLAFT! Soou o maior bofetada que jamais alguém tinha ouvido pelas redondezas. O homem rolou por terra!

A policia foi chamada, uma indenização teve de ser paga assim como o atendimento médico no hospital.Foi uma trabalheira sem precedentes.

O gorila, coitado, envergonhado com o que tinha feito fugiu para mata mas voltou uma semana depois. Um longo abraço à entrada do restaurante...O gorila e o pai, novamente juntos.Que alegria para os dois!

Estória contada, e é pedido ao grupo de soltados portugueses que naquele dia visitam pela 1ª vez o restaurante, para que se despedissem do gorila com um beijo na mão peluda dele.

Foram até ele. O gorila sempre muito atento e desconfiado com novas visitas, já os observava atentamente de um dos cantos do restaurante . E assim foi: pata estendida e um beijo , com certeza muito melhor que correr o risco de uma bofetada como só ele sabia dar!

Lana

Lady Lana
Enviado por Lady Lana em 17/10/2020
Reeditado em 17/10/2020
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