QUEREM NOS KAHLAR
Por @andreaagnus
30 de setembro. Bloquearam a fala e a liberdade artística da escritora e professora Kah Dantas no Instagram. Os motivos, por tão diminutos em suas justificativas, pouco importam. Mas, quem sabe foi um título que beatifica algo profano para a sociedade patriarcal brasileira como o direito ao Orgasmo Santo feminino. Ou então, porque, para a autora, sexualidade é tal qual café com leite, tão essencial que cai no cotidiano. Como disse, para que especular as razões de tantas denúncias à página da escritora que foi engolida pela Boca de um Cachorro Louco e virou mártir nas redes sociais?
Tudo o que posso dizer, e a história mostra isso, é que sempre se teve o hábito de crucificar nossos profetas, em nome de uma vã consciência que se deve resguardar os valores morais e a ordem vigente. No caso do bloqueio da página @contakah, a problemática vai mais além. A motivação está no hábito de homens de bem determinarem o destino da vida sexual de outrem por um puritanismo capenga e ultrapassado. Porque sempre foi assim que nos tornamos próximos da imagem e semelhança de Deus: julgando.
Por isso, acredito que privar uma escritora cearense que superou tantas dificuldades na vida e transformou isso em fonte de inspiração para seus textos como Kah Dantas, é também uma forma de calar a voz de cada mulher que luta por seu espaço de ser e existir. Resistimos com nossos corpos, com nossos desejos e nossas vontades. Pisando em ovos que não são nossos, mas deles, aquela espécie tão ultrajante e nem por isso rara, como a raça de homens misóginos que sufocam nosso direito primitivo de sermos mulheres de verdade. Transbordando isso para patamares que não caberiam, como na política.
No mínimo é estranho que pessoas de opinião como nós, a poucas semanas de novas eleições, sejamos misteriosamente silenciadas. Pensem comigo: onde a repressão ganha seu espaço de legitimação, senão através de nossos governantes? Teoria da conspiração? Será? Não, queridos leitores. Mais Cristos virão e todos serão tolhidos e crucificados, porém estes em algum momento serão consagrados à Deus. Nós, as Marias Madalenas, não! Lugar de Marias, no mundo cibernético que se faz, é dentro da burca que sufoca nossa visão e nossa fala. Exige-se apenas que sejamos bonitinhas com nossos filtros de imagem, figurinhas e emotions engraçados. Isso é o bastante.
Fêmeas profanas, escrevo assim minhas palavras, na voz de uma mulher sagrada, deixando um chamado para todas nós: Vamos resistir sempre, pra fora e acima da manada!