Perigo de enchente

O barulho aumentava conforme os olhos deslizavam sobre a tela do notebook. De fundo já era possível ouvir pessoas gritando uma frase que ainda era indefinida aos ouvidos, buzinas de carro começavam a ecoar, uma voz de fundo surge, é possível identificar alguém falando num microfone. Fiquei espantado, pensei que seria um trio elétrico em meio à pandemia! Por sorte não era, na verdade, era um trio elétrico, mas não tinha show e sim um comício! Pessoas gritando e pulando fervorosamente, como se estivessem num estádio de futebol, ou em alguma igreja. Elas vestiam camisas e carregavam bandeiras com os número dos candidatos, que em cima do trio elétrico, com uma bela sombra acenavam para as pessoas que estavam na rua, debaixo de um sol escaldante. Deixando explícita a igualdade da democracia. Tudo parecia convincente, mas depois de alguns minutos observando o comício, era perceptível os sinais de insegurança, inveja, incompreensão. A paródia de um grande sucesso com os números dos candidatos de fundo, era a trilha sonora que deixava a falsidade digna de respeito. Além da poluição sonora que o grupo fazia, espalhavam lixo, atiravam panfletos e adesivos ao ar. O dinheiro no término do comício seria o meio de troca para tal encenação teatral contemporânea, isso não é mais segredo para ninguém. A hipocrisia e a corrupção caminhado juntas, de mãos dadas em plena luz do dia, sem disfarce, que apesar das máscaras que os participantes usavam, estavam explícitas e escancaradas para quem as quisesse ver. Deixaram além do lixo e dos adesivos colados em alguns portões, a feira da semana garantida para algumas famílias.O paradoxo da natureza humana, está realçando a vulgaridade das relações entre as pessoas e enchendo os ralos da sociedade, da mesma maneira que os panfletos, só espero que isso não cause nenhuma enchente.