Velhos e jovens

Ouço uma canção: “Antes de nós vieram os velhos. Os jovens vieram depois de mim. Estamos todos aqui no meio desta vida vinda antes de nós.” A música é interpretada pela Adriana Calcanhoto, mas é composta por Arnaldo Antunes e Péricles Cavalcanti. Quero escrever sobre a letra. Levanto, tomo café, vejo notícias a voz de Adriana ainda ecoa dentro de mim mesmo depois de eu desligar o vídeo no Youtube.

Velhice não é sinal de maturidade, mas juventude não é sinal necessariamente de viço. Conheço velhos imaturos, jovens com preguiça de viver e a cada dia que passa estou mais convencido de que estamos todos no meio da vida. Como dizem os versos.

Certa vez eu estava com um grupo de amigos indo para um bar e eles queriam chamar um terceiro que eu conhecia pouco. Era sábado à noite por volta das nove horas, mas o rapaz dizia estar debaixo de cobertas. Não que eu veja algum problema em não sair nas noites de sábado, mas foi algo na voz que fez com que eu sentisse pena dele. A voz era de alguém que já não vive mais por dentro, que não se entusiasma com nada e que vive totalmente sem paixão. Também conheci uma meninada incrível que gosta de tocar violão, ir pra festas, fazer resenhas em casa e viajar.

Já vi por outro momento velhos ativos. Que namoram, têm bandas atuantes na música, pulam de paraquedas — coisa que eu farei talvez apenas numa outra encarnação. Vi da mesma forma gente idosa imatura. Idoso furando fila, roubando salgadinhos no supermercado, avarento e a lista não vai parar.

A voz da Adriana me percorre a alma, o corpo, parece me habitar por completo. Vou pensando que velhos e jovens fariam melhor se seguissem juntos de hoje em diante. Por exemplo, a geração mais madura adora encontrar pessoalmente e fazer encontros presenciais. Colecionam discos, entendem de cinema, de livros, de pintura. Sou vivido o suficiente para dizer que ninguém aprende tal conhecimento na escola.

Já a geração mais jovem pode devolver aos maduros uma certa vontade de saídas noturnas, de dançar, de fazer uma viagem inesquecível. A canção continua na minha cabeça: “Quem chegou e quem faz tempo que veio. Ninguém no início ou no fim.” Viver é um eterno aprender, um cair e levantar e uma descoberta do mundo e dos outros. Até quarta-feira.

Leandro Alves Pereira
Enviado por Leandro Alves Pereira em 14/10/2020
Reeditado em 14/10/2020
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